É raro o dia que não aparece na imprensa escrita e informática uma notícia que se refira «ao conto do vigário». Velhinhos das aldeias do Interior são os mais burlados, mas, muitas outras pessoas mais novas, com outros conhecimentos e escolaridades elevadas, também caem no conto dos burlões. Mas pergunto eu: quantos sabem da origem da frase? De que forma ela apareceu? Quem foram os seus principais protagonistas?
Vou tentar elucidar os meus caros leitores e desvendar o mito ou porventura o conto em seu redor. Qual o seu enredo?
Chegou uma vez junto do Senhor Vigário um falsificador de notas falsas e disse:
“Senhor Vigário, tenho umas notas de Cem Mil Réis que me falta passar, o Senhor, quer ficar com elas? Eu dou-lhas por 20 Mil Réis cada uma”. O Vigário não as quis, mas fez uma outra proposta de Dez Mil Réis cada uma. O falsificador aceitou.
Alguns dias passados o Vigário haveria que pagar a compra de uns gados a dois irmãos e foram encontrar-se numa taberna. Aí, o “Manuel Peres Vigário” sentou-se ao lado deles e pediu uma garrafa de vinho. Em seguida, começou a pagar a dívida puxando da carteira as notas de Cem Mil Réis. Receberam e guardaram no bolso, sem conferir e verificar da sua autenticidade, acreditando na seriedade do Vigário. O Vigário pediu mais vinho e depois da bebedeira, disse que queria um recibo, pois desejava que ficasse «preto no branco» a transação efetuada e tida como séria. Os irmãos aceitaram e ele ditou os dizeres do Recibo, no qual se referia que na Taberna, a tal dia, e a tal hora, tinha pago a quantia estabelecida e em dívida. O Recibo foi datado, selado, assinado. O Vigário meteu-o no bolso e foi-se embora.
No dia seguinte, os irmãos foram pagar as suas dívidas com as notas referidas e foram-lhes devolvidas por serem contrafeitas. Constataram então que haviam sido burlados pelo Vigário. Chamaram-no perante o juiz. Apresentou o recibo devidamente autenticado e assinado e como era de justiça foi mandado embora, não impedindo, porém, que a notícia se tenha espalhado e a sua idoneidade ficado pelas ruas da amargura.
A história do Manuel Peres Vigário alastrou-se por todo o Portugal e ficou eternizada até hoje. Fernando Pessoa chegou a referir-se a esse caso imperecível do CONTO DO VIGARIO (adaptado do dito popular).
E quem havia de dizer que o nosso burlão disseminado pelo país, dia a dia, era um frade? Pois, pois.