Durante a campanha eleitoral fui tendo conhecimento de anedotas, comentários jocosos e vídeos indecorosos sobre a deputada Joacine que não me passavam pela cabeça poderem existir nos dias de hoje. Racismo a rodos, xenofobia sem precedentes, desprezo pelas diferenças, o «preto» considerado como cor e raça menor. Tudo mui grave e constrangedor.
Como me enganei! Pensei que tudo aquilo estivesse extirpado na sociedade portuguesa, numa altura em que tanto se fala em cumprimento de quotas e igualdade de direitos homem/mulher. E sabem porquê tudo isto? Porque se queria explorar o facto da atual deputada ser gaga e de cor. Pensei que o respeito por qualquer deficiência era respeitado, mas não.
Apesar da guerra emporcalhada, a candidata a deputada foi eleita. Louve-se o bom senso dos portugueses votantes.
No meu silêncio, explodi de alegria.
Agora vamos para a Assembleia da República: a jagunçada começou antes de tudo começar. Já se discutem os lugares e os tempos de intervenção.
Nenhum dos pequenos partidos quer os lugares que lhe estão destinados, por isto ou por aquilo. Há dúvidas, por exemplo, quanto à gestão dos tempos de intervenção em plenário. Coloca-se em cima da mesa a hipótese de o caso de Joacine Katar Moreira, a deputada do Livre, poder ter mais tempo que os outros seus pares. O Livre solicitou. Teve como resposta a complacência, a flexibilidade da Mesa da Assembleia da República. Palavra que significa o tudo e o nada.
A Mesa interrompe os deputados quando estes ultrapassam a duração prevista para as suas intervenções e não o aumento efetivo do tempo, como o partido tinha pedido. Tudo se pode resolver com base no bom senso e não por via do aumento do tempo.
Há um tempo determinado e depois o bom senso impera.
Estou morto para ver o que se vai passar e ouvir a linguagem impudica de alguns deputados quando o tempo for ultrapassado.
Joacine, continua, nem que fiques sem microfone!