Fiquei estarrecido quando abri o Diário de Coimbra e vi, postada na necrologia, a fotografia deste homem que tinha por mim uma amizade especial, retribuída sem escolhos pela minha parte. Afeições que se forjam, não se sabe bem porquê, mas que se expressam, sem mentira ou hipocrisia, no momento do encontro.
Há uns meses que não vou à Baixa; por esse facto, nunca mais vi este amigo sentado numa das esplanadas do Largo da Portagem, rodeado pelos seus amigos prediletos e, exuberantemente, proferindo o seu discurso para o grupo ou contando a anedota que ele considerava a mais recente de todas.
Conheci-o no Café Santa Cruz, numa altura em que estava empenhado em escrever o livro sobre o dito café. Encontrava-me quase sempre numa mesa ao fundo, corrigindo os últimos textos produzidos. Não havia dia nenhum que o Cruz dos Santos não me fosse cumprimentar e saber da minha saúde e do andamento do livro.
Foi assim que, dia a dia, se forjou uma empatia indissociável da vida dos dois.
Depois de deixar de frequentar o Santa Cruz, não foram poucas as vezes que entrava apenas para me ver e cumprimentar.
Lia, com interesse, as suas crónicas no Diário de Coimbra. Apreciava o seu modo de escrever. Sempre direto ao assunto, sem peias ou medos, tentando incutir nas pessoas a sua verdade, e despertando-as para problemas atuais que os políticos menosprezavam por incompetência ou interesses partidários.
Não calcula como me faz falta meu amigo. Falta-me a sua mão na minha, naquele cumprimento que se sentia verdadeiro e afetuoso.
Tenha a certeza, Cruz dos Santos, não vou esquecê-lo durante o tempo que cá andar. Até sempre.
À família enlutada os meus sentidos pêsames.