No dia 21 de outubro, realizou-se, em Coimbra, no Grande Auditório do Convento de São Francisco, o lançamento da Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea (Volume X), sob o lema «Entre o Sono e o Sonho», uma edição da Chiado Editora.
O auditório do Convento encontrava-se repleto, mais de 1000 pessoas, vindas de todo o país, para apoiar ou acompanhar os novos poetas que foram selecionados para fazer parte da Antologia.
Nesse vasto rol estão muitos que viram, pela primeira vez, editado o seu talento, e, muitos outros que as diversas editoras vão relegando, por motivos diversos, rejeitando, embora a qualidade esteja lá, em cada frase, em cada palavra.
A Editora Chiado tem vindo a dar voz a muitos desses poetas, e, por inúmeras vezes, a facilitar a publicação da obra oculta de muitos deles.
Coimbra alheou-se, quase por completo, deste evento, desde a imprensa aos distintos intelectuais da nossa praça. Valha-nos o apoio que a Câmara Municipal de Coimbra resolveu, em boa hora, dar à realização.
Não quero, de modo algum, considerar a promotora da realização um anjo caído do céu que aportou à terra para apoiar, sem interesses óbvios, os jovens ou os mais velhos, iniciados na arte, esses desconhecidos, que vão imaginando o planeta à sua maneira, sonhando, sempre, por dias melhores, ou, revivendo memórias, de outro jeito difíceis de fazer perdurar. Também construindo presentes e futuros efabulados, mas realizáveis. Uma Editora tem sempre como finalidade, última, a sua subsistência e o lucro. Salve-se, neste caso, o empenho, a inovação, a criatividade do empreendimento, a bondade de fazer felizes cerca de 1000 pessoas.
Como participante dá-me algum aconchego o convite feito para apresentar a minha pobre arte de postar a vida.
Para dar uma ideia, aos meus leitores, da qualidade destes novos sonhadores, pego num volume da Antologia, e, abro-o, numa página, aleatoriamente. Vou encontrar um poema chamado Um… de Hália Seixas.
Com a justa cortesia à autora, faço a sua transcrição:
Um pedaço de nada
um papel amarrotado,
uma frase rasurada,
um lápis mordiscado,
um pensamento alinhavado
em pequenos versos
talvez cruzados e controversos.
Um calor que contraria
um frio que me envolve,
uma luz trémula a esvanecer,
o tempo que se dissolve
enquanto devaneio a escrever
sem saber o que fazer
sem saber quando parar
e o que será quando acabar.