I
Vivemos entre dois mundos: o de cá e o de lá.
Sofremos de inquietação, desassossego, o sobressalto de cá.
Andarilhamos até chegar lá;
Buscamos o cá e olvidamos o lá. Sempre cá e lá.
II
Procuramos um caminho, uma fuga, embora saibamos pouco de cá e de lá.
Andamos enredados numa existência corrida, sabendo que vamos para a quietude de lá.
Criamos um paradoxo atraente, tentando esquecer o cá e o lá.
III
Inventamos “um norte”, quase o azul do mar, deslumbrados pela vida de cá,
Geramos uma sucessão de palcos para recusar o lá.
Afinal somos viajantes entre cá e lá?
De lá para cá?
Ou de cá para lá?
III
Navegamos á bolina, pretendemos ser felizes à pressa, porque tememos o lá?
Mas pergunta-se, afinal, o que é andar cá?
A resposta é indecisa, redundante, pois não conhecemos o lá,
IV
E, afinal, o que é o cá?
Uma interminável incerteza, tal qual o lá?
É quase um absurdo apetecível, o que nos leva a viver cá?
E o que sabemos sobre o cá, sonhando com a incerteza de lá?
V
Por cá, por enquanto, é andar de lá para cá, e de cá para lá,
Sempre à procura de entender quando vamos p´ra lá.
P´ra morar eternamente lá, já sem cá.
VI
Tamanho contraditório é esta vida cá e lá.