18 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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António Inácio Nogueira

TESTEMUNHOS – (Des)amores

9 de Fevereiro 2024

TESTEMUNHOS

(Des)amores

            Numa prateleira de uma livraria que fazia saldos de livros, encontrei lá no canto, bem escondidinho, um livrinho que tinha como titulo, Fernando Pessoa Foi Alguma Vez Salazarista?         Comprei.

Na contra-capa do livro pergunta-se: “O que pensava Pessoa de Salazar? Amava-o ou odiava-o? Pessoa foi alguma vez salazarista ou fascista?”

O livro deixa Fernando Pessoa expressar-se. Sobre o caso, nota-se que escreveu bastante. Não sei se alguma vez apoiou decisões de Salazar. Porventura sim. Fascista não era.

Encontrei no livro, textos e versos fervilhantes. Com alguns ri, destemperadamente. Com outros fiquei meditabundo. Enlevado com muitos deles.

Deixo alguns fragmentos, aqui, em prosa e verso, para os meus leitores. Desde já aviso que o primeiro pode ferir suscetibilidades. Peço desculpa se assim o entenderem, mas, por enquanto, ainda há liberdade de expressão. Eu quero usufruir dela. No entanto, espero, vou ser parcimonioso ao apresentá-lo!…

Comecemos então por esse verso maldito, «desbragado». Deixo apenas a primeira letra de duas palavras do último verso. O poeta que me desculpe…Ó Pessoa amigo , deixe lá, toda a gente vai entender!.:.

E eles todos a pensar

Na vitória que os uniu

Neste nada que se viu,

Dizem, lá se conseguiu,

Para onde agora avançar?

Olhem, vão p´ra o Salazar

Que é a p. que os p.

Agora vou apresentar-lhes partes de um outro, datado de 1935, intitulado Sim, É O Estado Novo. Mais moderado e epigramático.

Sim, é o Estado Novo, e o povo

Ouviu, leu,  e assentiu.

Sim, isto é um Estado Novo

Pois é um estado de coisas

Que nunca antes se viu.

 

Em tudo paira a alegria

E, de tão íntima que é,

Como Deus na teologia

Ela existe em toda a parte

Em parte alguma se vê.

 

A António de Oliveira Salazar, em 1935, escreveu um poema longo. Dele aproveito os as passagens abaixo transcritas, por considerar que no seu enredo está contemplada uma palavra que nos foi devolvida com o 25 de Abril, já lá vão quase 50 anos: liberdade.

Coitadinho

 do tiraninho!

Não bebe vinho,

Nem sequer sozinho…

 

Bebe a verdade

E a liberdade,

E com tal agrado

Que já começam

 A escassear no mercado.

No tempo do Estado Novo muito se propugnavam as contas certas de Salazar. A esse propósito escreveu Fernando Pessoa:

“O Prof. Salazar é um contabilista. A profissão é eminentemente necessária e digna. Não, é porém, profissão que tenha  implícitas directivas. Um país tem que governar-se com contabilidade, não pode governar-se por contabilidade.

Assistimos à cesarização  de um contabilista.”

Por agora termino.


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