Ao escrever a tese de doutoramento centrada na Guerra Colonial a que dei o título, Capitães do Fim, muitas vezes dei-me a refletir, durante as minhas investigações, sobre aquilo que está escrito na história e quem o escreve. Dei a interrogar-me se seria, em múltiplos casos, a versão dominante resultante da lei do mais forte a ser construída, quase sempre, pelos vencedores. Mas quem era eu para fazer uma afirmação destas, apesar dos estudos e indagações efetuadas.
Hoje fiquei deveras satisfeito por encontrar um autor consagrado, David Mountain, apoiando, de certa forma, o que nessa altura me fluía ao pensamento. No seu livro Os Erros da História, best-seller internacional, analisa algumas das histórias que construíram o nosso passado. Diz o autor: «elas foram moldadas por fantasias, preconceitos e interpretações que deturparam capítulos inteiros da história real, apagaram protagonistas e forjaram civilizações». Então a verdade, acrescenta ainda o historiador, é mais complexa do que julgamos saber. Na contracapa do citado livro, vai-se mais longe, e, faz-nos meditar sobre o tempo da escola. Não estaríamos a ser enganados e durante tanto tempo?
Mountain escreve ainda: «(…) é impossível negar o papel da história na formação das perceções da nossa sociedade, tanto do passado como do presente (…), no entanto, há uma grande lição a ensinar: nunca aceitem o passado como garantido». Acrescenta: «O facto de não conseguirmos mudar o passado engana — nos a pensar que ele é, de alguma forma, imune à confusão e ao conflito do presente».
Frederick Jackson, outro consagrado estudioso, discerne: «Cada época escreve de novo a história do passado, tendo em conta condições mais importantes do seu próprio tempo». Esta flexibilidade da história — a sua capacidade de ser escrita e reescrita — é, então, uma espada de dois gumes. «Por um lado, permite — nos rever interpretações anteriores à luz de novas provas. Por outro lado, deixa o passado aberto à manipulação deliberada por parte daqueles que procuram justificar e apoiar as agendas contemporâneas.». O conhecido George Orwell acrescenta: «quem controla o passado controla o futuro, quem controla o presente controla o passado».
Voltemos de novo, e, finalmente, a Mountain: «Diz-se frequentemente que a história é escrita pelos vitoriosos em muitos casos, isso é verdade, e os historiadores podem passar a vida a colher os grãos da verdade das resmas de propaganda que compõem a maior parte das fontes históricas (…), mas esta regra só funciona, se os vitoriosos puderem escrever.»
Contente estou. Afinal, a minha dúvida não surgiu do nada… e, vale sempre a pena estudar sobre as coisas da história, direi, as nossas representações do passado podem ser erradas.