Porque “hoje é o primeiro dia do resto da Vida de todos e cada um de nós”, como tão bem nos lembrou recentemente o Professor Carlos Fiolhais, talvez seja bom pararmos um pouco para pensar como queremos verdadeiramente viver: atafulhados de coisas que na verdade nada acrescentam? A correr, sem parar, em busca de coisa nenhuma? A acumular e acumular sem dispor de tempo para saborear, vivenciar, o que alcançamos? Há inúmeras “frases feitas” às quais vale a pena de vez em quando regressar, aqui fica uma: “o futuro é hoje”. Pensará o leitor: mas a que propósito vem tudo isto??? Simples! É que os meses estivais nos convidam a parar, olhar, reparar, a deixar-nos surpreender pelas coisas mais simples: um magnífico pôr-do-sol, a brisa marítima, passear descalço, fazer um piquenique, colher um fruto diretamente da árvore e comer, percorrer os vinhedos e deslumbrar-se com a magia da Natureza – ainda há meia dúzia de meses as cepas pareciam secas e velhas e agora é vê-las cheias de vida!, mergulhar no Atlântico, percorrer as ruas do nosso bairro e descobrir espaços que nos convidam a criar novas formas de sociabilidade e partilha do espaço público, viver os dias sem olhar o relógio mas atentos ao que nos rodeia, com tempo para estar, tempo para viver o tempo que nos é dado viver. Uff!, lá está ela de novo com devaneios!, pensará o leitor.

Passemos então ao nosso postal gustativo. Verão convida a limonada, sumos frescos, esplanadas. Conversas longas. Sorrisos rasgados. Saladas,… a descobrir nos 19 Municípios o Património (imaterial e material, natural e edificado) singular que Coimbra – Região Europeia da Gastronomia nos convida a experienciar. Que tal uma salada de polvo ensalsado? Prefere uma salada russa? E que tal umas pataniscas de bacalhau? E uns ovos mexidos em “cama de broa” (de milho, claro!)? E uns peixinhos da horta? E uma salada de bacalhau desfiado com feijão frade (temperado simplesmente com umas folhinhas de salsa picada, alho e um fio de azeite)? Não me diga que o que lhe está mesmo a apetecer é um gaspacho? (tem razão, caro leitor, é mais para sul que este é um prato emblemático, só que… Coimbra também o tem no receituário: sopa de tomate; e, já agora, a horta é que dá identidade e “ordens” na cozinha no que ao receituário diz respeito: os alimentos de época dão o mote para a multiplicidade de variáveis que mãos alquímicas transformam em pratos doces, salgados, compotas, sopas, ensopados,…; o tomate, e outros produtos da horta e pomar surgem em abundância por esta altura, o que leva a que se tentem encontrar formas para os conservar, seja através de compotas, geleias, pickles,… para serem saboreados no tempo em que há menos variedade de frescos, ou para criar ou recuperar receitas de biscoitos e aventurar-se por outras receitas criativas, o que me leva a reforçar a convicção de que estar À Mesa continua a ser uma das melhores formas de Celebrar a Vida.

“As conversas são como cerejas”, já diziam os antigos (tem razão, caro leitor, o tempo das cerejas agora só para o ano, mas… a sabedoria mantém-se, bem como as compotas e outros modos que temos de poder saborear tão encantador fruto até à próxima campanha), e a palavra escrita tenta de alguma forma simular a salutar arte de tertuliar que nos convida a dispor de tempo para conversar sobre temas diversos à volta de uma mesa, sem lugares marcados, mas sempre com espaço para que, como canta José Afonso, “venham mais cinco”.

Os postais são pequenas-grande páginas de uma história comum que nos permite olhar em modo objectiva grande angular para as variáveis possíveis da arte de viver. Escrever é a arte de fixar memória e partilhar momentos únicos, que tal escrever um postal e enviar? Há magníficos postais que aguardam uma palavra escrita – e um selo – para entrarem em circulação. Aceite o desafio, caro leitor e… escreva um postal!

Até já e… tertuliemos “coisas” boas!