“Choveu. Para a tarde, então, abriram-se os dilúvios do céu. Mas este viajante não é homem para desanimar à primeira bátega, e a segunda e a terceira ainda o encontram no caminho”.
Palavras de José Saramago que assumimos como mote deste nosso Tertuliar e assinalam o concretizar de mais uma etapa preparatória do desafio que abraçamos e aqui relembramos: seguir os passos de Saramago e refazer/reviver a “Viagem” (o mesmo mapa, agora numa viagem a partilhar em grupo, sob a forma de um leque de percursos de alguma forma … autónomos, a ter lugar em diferentes momentos ao longo do ano; os primeiros passos do caminho serão percorridos já em 2019, estejam atentos!).
Temperaturas baixas e muita chuva. Surpreendidos por uma magnífica Lua que ilumina o dia, relembramos que tudo passa. Nostalgia e gratidão juntas à nossa mesa numa partilha que se vive também no aconchego das palavras e sorrisos e no opíparo caldo verde com que somos brindados. E a brindar continuamos, com as palavras de quem connosco partilhou um dia especialmente desafiante: motivar para a descoberta do nosso património, vivenciando o dia-a-dia de uma aldeia “perdida”. As aspas são propositadas, pois de “perdida” apenas a nossa distância urbana tinha por realidade: a aldeia fervilhava nesse dia com o aroma a azeite; na verdade é um cheiro demasiado intenso e inesperado para quem apenas conhecia o suave aroma e paladar de tão saborosa e ancestral iguaria através de um galheteiro! (um pequeno parêntesis: à nossa mesa tínhamos uma broa de milho, cozida em forno de lenha, que nos levou a erguer um brinde verdadeiramente sui generis e, talvez!, inaugurar uma nova prática: brindar com um pedaço de broa salpicado de azeite; estranho? como terá dito/escrito o poeta… “primeiro estranha-se, depois entranha-se”; ouro líquido e comestível a transformar uma simples fatia de broa num manjar dos deuses).
A proposta tinha sido participar na apanha da azeitona e ver, “ao vivo e a cores”, um lagar a funcionar. O grupo acabou por ser convidado a experimentar os petiscos que estavam em cima da mesa, constantemente a ser “recomposta” por mãos expeditas e uma presença tão leve que nem nos fomos apercebendo; verdadeira magia alquímica!: virávamos um pouco o olhar para assistir à moenda e à prensagem e… lá estavam de novo as tacinhas com azeitonas, os cestos com broa, o queijo, o bacalhau desfiado,… como era possível? Entre sorrisos de gratidão lá nos fomos despedindo (sim! um “garrafão de ouro” veio connosco) com a promessa de regressar no próximo ano.
Uma aventura partilhada que nos levou a falar do mês que agora nos bate à porta e nos convida a recuperar 1001 receitas e sabores a que o nosso azeite dá um toque verdadeiramente singular e nos relembra que é na simplicidade dos gestos e na mistura alquímica de ingredientes singelos que está um dos fatores identitários e valorativos das nossa gastronomia.
Lembramos ainda, caríssimos tertulianos, há Mercados de Natal, teatro, música, caminhadas, … agendados para a Região Centro que nos convidam / desafiam a sair, descobrir novos sorrisos e contribuir para respirarmos alegria mesmo com as temperaturas outono-invernais.
O nosso convite, esse mantém-se, caros leitores:
Tertuliemos!