“Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias”
Nas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen, celebramos a Vida e o mês em que assinalamos o seu 99.º aniversário: novembro.
No ar há um aroma quente a lareiras acesas, castanhas e natureza. Natureza quente? Se as temperaturas desceram e a Estrela até vestiu o seu manto invernal…
Amarelos, laranjas, vermelhos: as cores quentes com que a Natureza nos brinda ao passearmos pelos nossos parques e jardins (o Jardim Botânico já reabriu, caríssimos leitores!, é tempo de retomarmos os nossos passeios).
Tertuliando à volta da mesa, deixamos que o ritmo das palavras vá dando lugar aos silêncios reconfortantes de uma bebida quente (adotamos as canecas e não as tradicionais chávenas, para assim manter as mãos em concha e, estrategicamente, prolongar sensações de bem-estar).
Biscoitos de azeite, bolo de laranja e…
(porque será que o tempo frio reclama doces? “parece que os gelados também se vendem mais no inverno”, alguém diz)
…torradas em fatias de “bolo da Páscoa” (tradicionalmente da época pascal passou a estar disponível ao longo do ano, mantendo a cozedura em forno a lenha!), barradas com doce de chila e polvilhadas com canela, dióspiros descascados, o polme colocado em taça e polvilhado com canela (o toque alquímico das especiarias!), alguém reclama a presença da broa e do queijo da Serra e assim a mesa fica… “supimpa”.
Novembro chega acompanhado de “bolinhos e bolinhós”, uma tradição que nos convida a partilharmos um pouco do que temos (essencialmente alimentos mais “lambareiros” do que nutritivos) com quem nos bate à porta e nos brinda com uma cantilena. Alguém partilha a experiência vivida em terra de amigos onde a tradição foi em boa hora recuperada, abrindo sorrisos e escancarando portas numa noite que se revela celebração de um espírito de comunidade em que se vive um lema singelo: “dar nunca nos tira nada”.
Em dia de S. Martinho manteve-se a tradição: fomos à adega (a)provar o vinho novo.
Terras de Sicó, Bairrada e Ribatejo: uma trilogia que serviu de mote a partilhar experiências vividas na Feira da Golegã (Feira de S. Martinho desde 1571) onde o nosso cavalo lusitano é rei e a arte equestre é vivida de forma verdadeiramente singular. Jeropiga e castanhas “de mãos dadas” neste cenário verdadeiramente único que convidamos os nossos leitores a (re)visitar… no próximo ano! (a edição de 2018 terminou no dia 11.11)
Novembro a meio, preparam-se os Lagares para reabrir e transformar as nossas azeitonas em ouro gastronómico. Nesses dias, à mesa, bacalhau assado com batatas a murro: uma tradição que se mantém e … tem vindo a ser recuperada em modo turismo cultural, valorizando práticas ancestrais que se revelam em toda a sua autenticidade e como forte contributo para a sustentabilidade dos territórios.
Relembramos que a nossa Região mantém um calendário de atividades culturais diversificado, da música ao teatro e à dança, da gastronomia e vinhos às caminhadas,… convidando-nos a (re)descobrir aromas, cores e vivências que só o frio e a chuva nos oferecem e que dão força ao mote: “a Vida é sempre”.
O nosso convite, esse mantém-se, caros leitores: Tertuliemos!