“Quando nos sentamos à mesa, é toda uma herança que se senta connosco”, palavras de Francisca Gorjão Henriques a servirem de mote ao nosso tertuliar.
Tendo a magia singular de uma noite de lua cheia por cenário, a paleta de cores outonais revela-se inspiradora de uma tertúlia em que o silêncio partilhado se junta à nossa mesa para uma conversa saborosa.
A coincidência de comemorarmos os vinte anos da atribuição do prémio nobel a José Saramago no mesmo dia (8 de outubro) em que é anunciada a Região de Coimbra (a par da Eslovénia) como Capital Europeia da Gastronomia em 2021, leva-nos a pegar na “Viagem a Portugal” do escritor e iniciar uma leitura… gastronómica.
“E que tal seguirmos os passos de Saramago e tornarmos contemporânea esta ‘Viagem’?”, a pergunta-desafio-convite a ganhar força em sorrisos cúmplices que se abrem e se começam a transformar num compromisso: arregaçar as mangas e fazer acontecer, já em 2019.
Num segundo, a “Viagem” desencadeia uma verdadeira “tempestade de ideias” que nos leva a estruturar dez etapas a caminho de uma meta: concretizar esta experiência (já estamos “no terreno”!, caríssimos tertulianos).
Acreditamos que o turismo cultural é um contributo fundamental para a sustentabilidade e valorização dos territórios, pelo que as palavras e o fazer acontecer nos servem de ponte para partilhar vivências de contemporaneidade: alguém relembra como as descamisadas (que faziam com que as danças e cantorias, mas também os namoros à sucapa – expressão que caiu em desuso e que faz parte da riqueza e criatividade da nossa língua -, beneficiando da cumplicidade da espiga vermelha, tornavam mais alegres os dias agora mais curtos) são agora vividas como experiência turístico-cultural de partilha, à semelhança do que acontece com o amassar a broa, vindimar, apanhar azeitona (novembro já espreita, antecipando a apanha do fruto que se transforma em ouro comestível e convida a… lagaradas, mas também a castanhas assadas),… valorizando fatores de sociabilidade que nos dão identidade.
Letras gastronómicas a servirem o menu tertuliar que nos brinda (ainda não é com vinho novo, caríssimo leitor, pois esse apenas em dia de S. Martinho estamos autorizados a provar…) com um fantástico bacalhau assado na brasa, acompanhado de batatinhas e migas de nabiças, tendo por companhia a nossa broa de milho e por remate doceiro… flores. Flores??? Sim, os nossos figos pingo de mel.
Agora que os candeeiros se acendem mais cedo, que tal escrever e enviar um postal? Relembrando que “à mesa todos somos contemporâneos” …
Tertuliemos!