“A Vida é tanto uma tragédia como um milagre. Mas, se uma pessoa chega a uma idade em que quase tudo lhe dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, pode concluir o quê, se não que a tem vivido? Uma Vida em que não se ri nem chora, em que nenhum motivo é grande o suficiente para se rir e chorar – que vida teria sido essa, afinal?”, pergunta-provocação encontrada nas páginas de “A Vida no Campo – os anos da maturidade”, de Joel Neto, e que nos servem de mote a novo tertuliar.
E de imediato surge a pergunta que nos pode acompanhar e servir de preparação para o dia: o que me faz feliz? Da simplicidade dos pés banhados pelo oceano a um café acabado de tirar, do sabor inusitado que se redescobre num gelado à música que se partilha, de uma soneca retemperadora à leitura de um livro a que vamos querer regressar, de caminhar descalço em plena natureza a uma gargalhada aberta que nos faz rir sem saber de quê… há uma infinidade de gestos e momentos únicos que nos vão (re)construindo. E fica o desafio: que tal escrever uma lista com as cinco coisas que o deixam feliz? Importante lembrar: não há certo nem errado, é o que é!; a lista nunca está fechada, é um “work-in-progress”, está em permanente atualização; é um auxiliar de memória precioso para aqueles momentos em que temos mais dificuldade em sentir a alegria que é estar vivo (a lista pode permanecer privada, pode ser refeita sempre e quando quisermos; é propriedade privada!).
Junho, o mês em que Santo António (sim!, é o mesmo Fernando de Bulhões que estudou no Mosteiro de Santa Cruz e se “descobriu” como António no eremitério de Santo Antão, a nossa Igreja de Santo António dos Olivais), S. João e São Pedro nos convocam para bailaricos e sardinhadas que nos devolvem o sentimento de pertença a uma comunidade, mas também o mês em que celebramos o 6.º aniversário da inscrição da Universidade de Coimbra – Alta e Sofia na lista de Bens Património da Humanidade da UNESCO e… o início do verão.
Esplanadas – Atlântico – Natureza, o “tríptico” que nos serve de mote para os próximos dias e nos leva a partilhar música, dança, sabores, aprendizagens, a deliciarmo-nos com as hortas e pomares, a descobrir uma nova “carta gastronómica” que segue à risca a ancestral sabedoria da natureza e nos convida a permanecer à volta da mesa em “amena cavaqueira”.
Verão é também sinónimo de… música e cinema ao ar livre. E assim redescobrimos espaços a que queremos voltar em modo visitante/ turista. Relembramos que o QuebraJazz já começou e o Festival das Artes está prestes a começar, para além de inúmeras e variadíssimas iniciativas a decorrer em Coimbra e na região Centro que nos convidam a descobrir lugares património da humanidade, aldeias que se reinventam e nos convencem a (re)descobrir a beleza e tranquilidade que resulta do simples facto de lentificar o passo, que nos leva a querer permanecer e mergulhar entre o verde, em águas de uma transparência repleta de vida.
Tempo ainda para caminhar, sentar na companhia de um livro – porque não um pincel ou mesmo um violino ou uma harpa? – ou assumir um latino “dolce far niente” num dos nossos espaços verdes: do Jardim da Sereia, com a magnífica Casa de Chá e novíssimo jardim infantil, ao Choupal ou ao Jardim Botânico (relembro que temos uma surpreendente e útil linha de autocarro que liga o Rossio de Santa Clara à Universidade, num percurso circular com uma regularidade magnífica, que nos permite atravessar o Mondego e o Botânico em modo… magia), da Mata de Vale de Canas à Escola Superior Agrária, onde descobrimos uma extraordinária Quinta Agrícola… em malha urbana, há espaços à espera de serem vividos e partilhados.
Lembramos aqui que está em votação o orçamento participativo e que todos estamos convidados/convocados a… votar.
Quanto ao nosso índice gustativo… uma nova entrada: sardinha assada na brasa em cama de milho (eh!eh!eh!, é mesmo em cima de uma fatia de broa), salada popular (alface, tomate, cebola, e… o que houver na horta), o deliciosamente incontornável arroz doce e… sim! o caldo verde irrepreensível que nos leva a querer repetir e lá voltamos com a malga à panela de ferro, seguida de passagem pela almotolia e “obrigatória” pincelada de azeite.
Relembramos anterior desafio tertuliar: partilhe connosco um petisco e/ou memória associada (um parágrafo = fixar memória = cultura cidadã) e… Tertuliemos!