Na minha última viagem ao Canadá, onde passava temporadas, ligada à rádio, imprensa e outras atividades apaixonantes, visitei o Museu da Ciência, em Toronto. Imensas apresentações de um interesse inesquecível.
Logo à entrada estava a representação do Planeta Terra e a simulação do que estava a acontecer, com a inclinação do seu eixo, ocasionando por isso mesmo, o encurtamento dos dias. Na realidade, já há muito que sinto, que o tempo, navio que nos conduz à eternidade, voa num ápice.
É manhã. De repente é noite. É segunda feira. De repente é sábado. É primavera. De repente é inverno. Fiz anos há dias. De repente estou de novo, a ter um novo aniversário… E não sou só eu a ter esta perceção.
Enquanto decorre a Juventude, ninguém sentirá isto. Muitas atividades aliciantes encobrem o fenómeno da rapidez da passagem do tempo, mas com o passar da vida, esta consciência vai emergindo mais vincada.
Aliás, não se parte de uma única vez. Vai-se partindo aos poucos, já que sabemos, que cada dia que passa é menos um dia para viver, e o fim se aproxima. Há um momento em que sentimos que estamos mesmo partindo, por esse sentimento fugidio se tornar mais intenso! E até ao vermos partir os amigos e os familiares, isso também se acentua.
O bebé nasce e passa um ano. Pois já tem menos um ano para viver!
Como nunca sabemos quando partiremos, quando menos se pensa, isso acontece… Ora se viveu mal, parte-se com um sentimento amargo. Será que aproveitámos bem o tempo que nos foi concedido?
Na realidade, as novas tecnologias e as redes sociais são uma tentação, que vicia sem dar por ela. O computador é o que consome mais tempo das nossas vidas. O iPad e o telefone, com todas as sofisticadas funcionalidades, sempre a assinalar que alguém está do outro lado, nem se fala!
Na rua, vemos as pessoas ao telemóvel. Os acidentes de automóvel que acontecem, devido ao facto do telemóvel ocupar a atenção do condutor, nem se fala. Nem à mesa, escapa o emprego constante do telemóvel, num desrespeito absoluto, por esse lugar sagrado, em que muitas vezes, apenas uma vez por dia, se encontram as pessoas da casa (já nem sei se família (…). Num grupo familiar entre pais, filhos, netos e avós, então brada aos seu céus. Todos estão ocupados com os ausentes. Ninguém comunica entre si.
Se os mais velhos também não estão teclando, o mais certo, estão mais tristes e sós, que se estivessem ali sem alguém, pois na realidade, estes não estão ali!
Na rua, acontece o mesmo. Todos caminham de telemóvel no ouvido, conversando e falando em alta voz. A atenção ao momento presente é impossível, embora seja o mais importante para termos consciência por tudo o que somos os únicos responsáveis.
Os diferentes sons de chamada, nos atos de culto, ou nos sítios mais incríveis, incomodam toda a gente. Enfim, os efeitos das radiações com os seus prejuízos, a dispersão, o desgaste de energia e o facto de se ser comandado pelos outros, não inibem as pessoas de se dispersarem a todo o momento, em todos os lugares.
De qualquer modo, o que acaba por ser pior é a desorganização. O desgaste e a perda de tempo, que não é usado no essencial, o que causa um empobrecimento humano inimaginável para a maioria que nem sabe o que veio fazer a esta dimensão, Terra!
A disciplina torna-se por isso, imprescindível. Alucinação. Adição. Dispersão. Inconsciência alastram, sobretudo nos mais jovens. Onde está o tempo para a reflexão? Para o autoconhecimento? Para a leitura? Nos menos jovens, para ajudar e ver crescer os filhos? Amar o seu cônjuge? Centrar-se nos seus objetivos? Para viver a sua própria vida, sem se deixar usurpar, num dos privilégios mais importantes que lhe concedido: o tempo? E por razões de saúde e pelo que todos sentis em vossas vidas, que nem precisamos referir.
Claro que é bom e necessário comunicar. Naturalmente, que a internet é algo precioso em nossa vidas e até profissionalmente, mas tudo sem ser compulsivo. Viciante, sem dar exemplos ao mais pequeninos, que já embarcaram também nessa prática. Coitadinhos. Já nem sabem brincar. Já não jogam à bola, nem ao pião. Nem à macaca, nem ao lencinho, nem aos reis e às rainhas, nem à cabra cega…. Já não vão ao jardim, andar de bicicleta. Os pais e os avós e sei lá quem mais, dão-lhes telemóveis. Consolas. IPad, sem qualquer controlo, num ato criminoso. Assim como pôr bebés frente à televisão, para não serem incomodados. Poderem beber o seu uísque. Ler o jornal ou (…) teclarem eles também, nas redes sociais e até jogando …
A família desaparece. Ninguém conversa com ninguém. Não há laços entre quem vive na mesma casa. Os pais levam os meninos para as creches para se desembaraçarem daquele frete. Eles retribuem mais tarde: levam os pais idosos para os lares para aí morrerem, na solidão afetiva mais cruel.
Tudo isto para termos a consciência, que a vida voa! De repente, a licença acaba e tendo vivido como acéfalos. Descontrolados. Desequilibrados. Sem qualquer opção espiritual, em vez de evoluirmos, involuímos.
Que herança deixamos aos que nossos vindouros, tendo-os deixado ver filmes de violência, sem comentarmos com eles absolutamente nada, porque não tivemos tempo?
O tempo torna-se o valor mais precioso, que podemos oferecer a quem amamos de verdade! Sem conversarmos com as crianças, nem brincarmos, porque não tivemos tempo. Sem termos conversado à mesa, ou mesmo quando iam dormir, também nenhum valor lhes transmitimos aos vindouros, porque gastámos mal o tempo, que contas daremos deste bem precioso : o tempo de vivermos?
Sem mais palavras fica apenas uma suave advertência, em forma de aviso…
Logo que puder, leia o conhecidíssimo poema de João de Deus, intitulado “Vida”…