16 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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VASCO FRANCISCO

Saudade

5 de Fevereiro 2021

Esboçaram-na com sete letras, numa conta carregada de simbolismo, dos sete pecados mortais, das sete virtudes, das sete ondas do mar. Ganhou contorno entre partidas e paixões, num país de navegadores, de guerreiros, de apaixonados. A palavra mais portuguesa do nosso dicionário, a mais genuína de um vocabulário tão rico e ostento como é a língua portuguesa. Não existem palavras certas para delinear o seu significado, pois a saudade não se explica, sente-se. Sente-se nas mais variadas emoções e sensações de a entender. Não se traduz, quer no idioma, quer no sentimento. Anda de mãos dadas ao tempo e à ausência, em recordações constantes que perduram por longos momentos ou o resto de uma vida.

Eleita a palavra do ano de 2020, ano de viragem e de uma revolução monstruosa que veio consumir os Homens, a estabilidade e a normalidade de outros tempos. Saudades de abraços e saudações, de vozes e afetos, saudades disto e muito mais… Foi consequência da pandemia esta eleição, mas bem poderia ser a palavra de um outro ano qualquer, estas três sílabas que doem, fazem sorrir e chorar, andando sempre presas no coração e nos lábios dos portugueses. O barco segue em mar agitado, o mundo vagueia no mesmo temporal. “Depois da tempestade vem a bonança”, que ela chegue, para que possamos matar as saudades de tempos próximos que nos parecem já tão distantes.

Será raro o autor ou artista que nunca tenha esboçado ou pintado a palavra “saudade”, essa feroz nostalgia que o fado traduz num canto bem nosso, numa melodia que seria diferente sem tal sentimento. Se há cidades que espelham a saudade, Coimbra é quem lhe toma com mais força o nome, tantas vezes evocada entre capas e vozes envoltas no feitiço das guitarras.

“Saudade”, sete letras bem casadas, não há ninguém que não as sinta.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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