Ter habitação social, que permita fazer face aos muitos casos de pobreza, é a grande prioridade da União de Freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas. O presidente, José Simão, assume que as duas localidades têm caraterísticas muito diferentes mas, apesar disso, a ação social continua a ser a área que exige uma resposta mais urgente.
Reforçar o apoio na área social tem sido a preocupação da União de Freguesias (UF) de Santa Clara e Castelo Viegas. Apesar de ser constituída por duas áreas bastante diferenciadas, uma mais rural e outra claramente urbana, a freguesia tem carências comuns. Para José Simão, presidente da UF, neste momento, “a grande prioridade da Junta é a parte social”, considerando que “é urgente apostar em habitação social”.
O autarca recorda que “desde 1951 não é feita nenhuma habitação social”, tendo sido construído nessa altura “um bairro social por Oliveira Salazar” que, entretanto, no decorrer dos anos, “o Município de Coimbra foi vendendo, casa a casa, não tendo feito mais nenhumas habitações com o dinheiro que arrecadou dessa venda”.
Apesar da anunciada retoma da economia, José Simão diz que “há muita pobreza, com as carências a chegarem a todos, mesmo à classe média que também vive com grandes dificuldades”. Considera que “a habitação social é uma necessidade em Santa Clara” mas defende sempre que esta se tem que destinar “apenas aos santaclarenses, aos moradores que provem aí viver há mais de 10 anos”.
“Temos que privilegiar os nossos residentes, as pessoas que, efetivamente, têm as suas raízes na cidade, que aqui fazem as suas vidas e que ajudaram a construir a freguesia”, realça.
Sendo a habitação social da responsabilidade da Câmara, o presidente de Santa Clara e Castelo Viegas explica que “não pede 500 nem 200 habitações”, mas sim “uma resposta que faça face às urgências que se sentem e que respondam condignamente a quem está a viver em situações desesperantes”. Quer, como realça, “habitação social controlada, a baixo custo, para que as pessoas possam ter um fim de vida com alguma dignidade”. Recorda, por exemplo, que na semana passada houve um sem abrigo que passou a noite na rotunda do Lidl (rotunda onde a Junta quer instalar uma estátua de Santa Clara de Assis e atribuir-lhe esse topónimo de rotunda de Santa Clara), “tendo como companhia um cobertor e cinco litros de vinho”. O executivo quis ajudá-lo, arranjou-lhe um albergue, mas, como explica, “apesar de serem sem abrigo, têm uma personalidade vincada e não se adaptam, sendo muitos incapazes de viver em comunidade”.
Apoios sociais são muitos e variados
Os problemas sociais sentidos nesta UF não se prendem, contudo, apenas com a falta de habitação social. Na Junta de Santa Clara há 20 anos e no comando da UF desde a organização administrativa de 2013, José Simão conhece bem este território e as pessoas que nele habitam.
A proximidade com as pessoas é, aliás, uma característica das juntas de freguesia, sendo elas a “primeira porta onde batem quando precisam”. José Simão conhece bem a população e as suas necessidades e, juntamente com toda a sua equipa, procura trabalhar diariamente no sentido de ajudar a minimizar as suas carências. “Na maioria dos casos, a grande pobreza nem está na alimentação. É preciso uma resposta integrada que, por vezes, passa pelo pagamento de rendas, medicamentos, faturas de água e luz…”, explica.
Nesta área, realça o apoio da Câmara Municipal de Coimbra e elogia o trabalho que tem vindo a ser feito pelo Departamento de Ação Social do Município. “A Câmara não é nossa inimiga, há áreas em que funciona bem e colabora e nesta questão da área social estamos muito satisfeitos”, sublinha, dando como exemplo o gabinete de apoio psicológico, onde tem uma psicóloga “pro bono” a assegurar as consultas. Esse gabinete social funciona na sede da Junta de Castelo Viegas e, “para as situações de aflição imediata”, está disponível uma assistente social na sede de Santa Clara, funcionando ambos os serviços gratuitamente.
José Simão sublinha que, também nesta área, há que ter uma atenção diferente em ambas as localidades, dando como exemplo o facto de “uma viúva de Santa Clara ser diferente da de Castelo Viegas”, uma vez que a primeira vai facilmente passear à Baixa ou ao Forum, enquanto a segunda “anda de casa para o cemitério, já que não tem nada para se distrair”.
O autarca elogia o trabalho que tem vindo a ser feito por estas equipas, constituídas por voluntários, “pessoas boas e generosas que disponibilizam parte do seu tempo livre para ajudar quem precisa”. Alerta também para muitos casos em que as famílias compraram casas e, pelas vicissitudes da vida, não conseguiram pagar os respetivos empréstimos, ficando, em muitos casos, “sem casas e com dívidas de muitos anos”.
“Nós estamos a roubar os pobres e eu tenho muita preocupação com isso”, alerta.
A UF disponibiliza também ajudas técnicas, como camas articuladas, cadeiras de rodas (incluindo elétricas), entre outros, mediante empréstimo. O caso das cadeiras exige também um cuidado especial, porque nem sempre os acessos e caminhos estão adaptados para que possam circular, o que leva a Junta a ajudar, traçando muitas vezes os percursos a seguir.
Atento a todas as situações urgentes que surgem, a Junta procura apoiar dentro das suas capacidades. José Simão lembra que, recentemente, ajudou a adaptar uma casa de um morador que teve as suas duas pernas amputadas, de forma a que tivesse tudo o que necessitava no rés do chão. Estes trabalhos contaram também, como sublinha, com o apoio do Departamento de Ação Social da Câmara Municipal, sendo os custos suportados pela autarquia e pela Junta.
O presidente recorda, também, o apoio que é dado ao longo de todo o ano a nível da alimentação, havendo famílias selecionadas que beneficiam de um valor mensal para gastar em bens de primeira necessidade, também aqui com o apoio da Câmara. “No meu entender, este é o departamento que está a funcionar melhor na Câmara neste momento. Tem havido um grande envolvimento com todas as juntas, obviamente que há umas que são mais ativas do que outras e, no nosso caso, temos uma Comissão Social de Freguesia super ativa”, realça.
Continuar a investir nesta área é, portanto, o objetivo de José Simão. “Esta é a nossa principal aposta. Honestamente, penso que é aí que estão as maiores carências da nossa freguesia. Sei que daqui a anos vão perguntar o que se fez, porque são consumíveis, mas acho que estamos a agir bem. Estamos a cuidar das pessoas”, frisa.
Envelhecimento ativo
Para além deste apoio, a Junta dá também uma atenção especial aos seniores, disponibilizando aulas de chi kung tanto em Santa Clara como em Castelo Viegas. Atualmente, de acordo com o presidente, estão ativas quatro turmas, envolvendo cerca de 70 pessoas, duas vezes por semana.
José Simão lembra que a realidade social mudou e que falar de um idoso hoje é completamente diferente do que sucedia há alguns anos atrás. “Há uns anos uma pessoa de 50 anos era muito velha. Hoje com 70 até nem gostam que lhe chamem velhos. A realidade social mudou muito, a qualidade de vida mantém-se até muito perto da morte ou mesmo até lá. Temos aqui pessoas com 80 e mais anos que fazem tudo – pagam as contas por multibanco, arranjam a horta e o quintal, mantém-se muito dinâmicas apesar da idade. Hoje, na maioria dos casos, tendo em conta a forma como as pessoas se mantém bem, a morte é uma surpresa”, realça.
Perante esta realidade, importa ajudar a manter os seniores ativos e saudáveis, através das suas atividades diárias ou outras que os desafiem a sair de casa e a conviver, como sucede com as aulas de chi kung.
UF tem muito por onde crescer
Em termos habitacionais, a UF tem muito por onde crescer. “Santa Clara vai ser das partes de Coimbra que mais vai crescer. Temos ainda muitos espaços verdes na zona urbana e mesmo a própria Câmara tem infraestruturas previstas para as zonas do Choupal até à Lapa. Acredito que essas infraestruturas vão ser para particulares, com mais pedidos de urbanização, portanto tudo leva a crer que a habitação vai crescer e que a UF irá atrair muito mais gente”, frisa.
Outra das mais valias em termos de habitação poderá ser a abertura da Decathlon, inaugurada anteontem, junto ao Forum, promovendo o emprego e devendo atrair consequentemente, como espera o presidente, mais moradores.
Sobre a construção propriamente dita, José Simão não vê grande crescimento. “Ensinaram-me que para sabermos que a construção está a crescer temos de olhar para as gruas. Vejo muito poucas. No entanto, há muitas casas cada vez mais degradadas”, lamenta, explicando que os senhorios que têm habitações com rendas muito baixas não têm grande motivação para fazer melhorias, o que faz com que as casas estejam “cada vez mais degradadas”.
Deixa, por isso, um apelo para que “se invista na recuperação dos imóveis”, não numa perspetiva do turismo mas a pensar nas pessoas. “Não se podem transformar casas em hostéis, isso é afastar das cidades as pessoas que as ajudaram a construir. O turismo pode ficar sem prejudicar as pessoas”, defende.
Lar de idosos e equipamentos desportivos precisam-se
A UF de Santa Clara e Castelo Viegas tem vindo a melhorar, nos últimos anos. José Simão destaca os “investimentos municipais importantes realizados na margem esquerda”, como o Convento São Francisco, mas, assumindo-se “um eterno insatisfeito”, lembra que “continuam a faltar muitos mais” e garante que quer “mais e mais” para a sua UF.
Ter um lar de idosos é um dos seus anseios. Recorda que há um particular interessado em construir esta infraestrutura no Vale Verde, no Alto dos Barreiros, com capacidade para 60 idosos. O projeto foi apresentado à Câmara mas o preço pedido pelas licenças “assustou o investidor”, não sendo por isso certo se a obra avançará. José Simão espera que se concretize, já que se trata de “um equipamento que faz muita falta na freguesia”.
No desporto falta também um pavilhão multiusos, coberto, que permitisse responder a várias necessidades, de índole desportiva e outras, como os próprios ensaios das Marchas Populares. O autarca congratula-se por estar em construção um campo desportivo no Vale Verde, onde foi construído também um parque infantil, ambos a céu aberto.
Lembra, ainda, que continua à espera da autorização da Câmara Municipal de Coimbra para instalar a estátua de Santa Clara de Assis, concebida para assinalar os 165 anos da Freguesia de Santa Clara, celebrados em novembro, numa das principais rotundas desta localidade, mais precisamente na chamada rotunda do Lidl.
“Não podemos continuar a dar um topónimo a uma empresa comercial. Acho que o nosso presidente às vezes não compreende bem estas coisas e lamento que a autorização continue a tardar”, sublinha, considerando que esta era uma forma de dignificar aquele espaço e valorizar a história da UF.
Património deve ser preservado
A União de Freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas apela à preservação do património. José Simão lembra que este território tem “das fontes mais bonitas da cidade” e lamenta que a Junta “não tenha dinheiro para as recuperar”.
Alerta também para o “estado de degradação dos dois aquedutos – o da reforma pombalina, de Manuel Alves Macomboa, que apesar de classificado nunca levou água; e o Aqueduto Real do Mosteiro de Santa Clara.
“Este património está a destruir-se todos os dias. Ninguém liga ao seu valor e ao que representa”, lamenta.
Junta concorre a “selo” que reconhece boas práticas
De referir ainda que a UF concorreu ao “Selo Comunidade Pró-Envelhecimento”, que reconhece as boas práticas na terceira idade.
Lançada pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, este “selo” pretende distinguir as comunidades portuguesas cujas políticas, programas, planos estratégicos e práticas demonstram um compromisso forte e efetivo com a promoção do envelhecimento saudável e bem sucedido ao longo de todo o ciclo de vida. Desta forma, visa “construir uma sociedade coesa, equitativa, inclusiva, saudável e segura, que promova o bem estar e a contribuição cívica de todos os cidadãos, durante todos os momentos do ciclo de vida”.