A reabilitação dos sobreviventes de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) deve ser uma prioridade, já que vai determinar a sua recuperação e integração. Este alerta foi dado no âmbito do Dia Nacional do Doente com AVC, que é assinalado anualmente a 31 de março, com o objetivo de chamar a atenção da população geral para a realidade do AVC em Portugal.
Para além da aposta nas medidas de prevenção e na divulgação dos sinais de alerta e fatores de risco de AVC, esta data, comemorada no domingo passado, surge também para relembrar o papel determinante da reabilitação pós-AVC na recuperação e reintegração dos sobreviventes.
“O AVC ainda é visto como uma fatalidade pelos decisores na área da saúde”, pelo que “a reabilitação acaba por ser negligenciada”, considera Castro Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC), referindo mesmo que “o pós-AVC é a nossa grande luta atual”.
Enquanto sobrevivente de AVC, António Conceição, presidente da Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos, reconhece que “o doente facilmente corre o risco de cair no esquecimento quando sai do circuito hospitalar”, ou seja, assim que tem alta após o período de reabilitação inicial, limitada no tempo. Para o representante da associação de doentes, esta reabilitação não pode ter uma duração pré-estabelecida e deve ser multidisciplinar, incluindo intervenções de áreas como a fisioterapia, terapia ocupacional, terapia da fala, neuropsicologia, assistência social, entre outros.
“O sobrevivente tem direito à reabilitação até recuperar na totalidade todas as capacidades afetadas pelo AVC”, afirma Castro Lopes, sublinhando que “a reabilitação não é uma esmola, mas um direito!”.
Estas duas entidades aproveitaram esta data para posicionar a reabilitação dos sobreviventes como “uma prioridade e uma necessidade”, enquanto “processo crucial” para que os doentes recuperem com a devida dignidade e qualidade de vida. “A reabilitação não é uma despesa, mas antes um investimento com retorno, pois pode significar a diferença entre continuar a ter um cidadão contribuinte ativo ou passar a ter um sujeito passivo, dependente da Segurança Social durante largos anos e com complicações de saúde que surgirão posteriormente, nomeadamente a nível psicológico”, e que implicam gastos acrescidos em saúde, realça António Conceição.
Neste contexto, Castro Lopes salienta a importância da existência de uma associação nacional de sobreviventes, como é o caso da Portugal AVC, “enquanto voz que reivindica os direitos dos doentes”, essencial para produzir mudanças efetivas.
O caminho a percorrer em Portugal é ainda longo, bem patente nos resultados do estudo “Caracterização da avaliação e tratamento de reabilitação nas UAVC em Portugal”, recentemente divulgado pela SPAVC. No nosso país, apenas 22,2 por cento das UAVC têm a equipa multiprofissional de reabilitação completa; em 37 por cento faltam dois ou mais elementos; e em 18,5 por cento faltam três ou mais elementos. O estudo foi realizado entre outubro de 2017 e janeiro de 2018, através de visita presencial com entrevista aos responsáveis pelas Unidades de AVC (UAVC) e ao médico especialista em Medicina Física e de Reabilitação (fisiatra) que dá apoio à UAVC.
De referir que o AVC continua a ser a doença que mais mata em Portugal e é também a principal causa por invalidez permanente no nosso país. Quase 30 por cento das pessoas com AVC acaba por morrer na sequência desta doença. Da mesma forma, quase 30 por cento dos sobreviventes sofrerá de incapacidade permanente, no entanto, 70 por cento das pessoas com AVC pode ter uma vida independente com tratamento precoce e reabilitação.