O tipo de processos psicológicos utilizados por pessoas com doença inflamatória do intestino (DII) pode influenciar diretamente a forma como esta patologia evolui em cada paciente. A conclusão é de um estudo realizado por Inês Trindade, investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), no âmbito da sua tese de doutoramento.
A investigação “Emotion regulation and chronic illness: The roles of acceptance, mindfulness and compassion in physical and mental health”, orientada pelos professores José Pinto-Gouveia e Cláudia Ferreira, adianta que a saúde física e mental está correlacionada em pacientes de DII como a doença de Crohn e colite ulcerosa (doenças auto-imunes que causam inflamação crónica no intestino).
“Através da recolha de dados de mais de uma centena de doentes com DII, ao longo de 18 meses, verificámos que a forma como a pessoa lida com os seus pensamentos acerca da doença – se se fusiona ou não com eles, ou seja, se acredita neles como se fossem uma verdade absoluta ou consegue ter uma atitude mais distanciada e os observa apenas como produtos da sua mente – influencia a evolução da sua saúde física (auto-percebida) e da sua saúde mental”, revela a investigadora do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da FPCEUC.
Segundo o estudo, “a fusão cognitiva, a forma como a pessoa lida com a sua experiência interna, é mais importante para predizer a evolução física e mental dos doentes de DII do que a sintomatologia física da doença”. Nestas situações revela-se o estigma associado ao facto da pessoa com a patologia ter algumas limitações na vida quotidiana. “Se a pessoa se fusiona com o pensamento ‘ninguém pode saber da minha condição física porque vão ficar com má imagem de mim’ ou ‘não vou tomar este medicamento, vou fazer este exame ou contar ao médico que tenho certos sintomas, porque não faz qualquer diferença ou porque tenho vergonha’, isso poderá ter um claro impacto no seu funcionamento social, mental e físico”, explica Inês Trindade.
“Estamos a reforçar a tese de que não se pode querer tratar uma doença crónica apenas através da sua componente física: temos de abordar também a dimensão psicológica – até porque a dimensão psicológica afeta não só a saúde mental mas também a saúde física dos doentes”, salienta.
Visto que sintomas depressivos e inflamação do intestino estão diretamente ligados, a investigadora realça que “importa intervir para parar este ciclo autoperpetuador, em que mais sintomas depressivos parecem provocar mais inflamação e maiores níveis de inflamação parecem provocar mais sintomas depressivos, levando a um agravamento progressivo do quadro clínico do doente”.
De acordo com a investigação, o próximo passo será “criar e testar a eficácia de uma intervenção psicoterapêutica que promova formas mais úteis e saudáveis de lidar com a experiência psicológica”.
Recorde-se que Inês Trindade foi distinguida em 2018 com um dos prémios Student Spotlight da Association for Contextual Behavioural Science. A sua tese “Emotion regulation and chronic illness: The roles of acceptance, mindfulness and compassion in physical and mental health” contou com o financiamento (bolsa de doutoramento) da Fundação para a Ciência e Tecnologia.