O Natal é uma data simbólica e faz parte da própria vida.
É a festa da família doméstica e universal. É uma festa de amor e denuncia em termos lúcidos os contrastes das almas e nesse dia existe a ideia peregrina das Boas Festas, como o mundo fosse um lugar de concórdia, no trocar prendas, beijos, abraços e demais afetos que se resumem a espíritos abertos e a uma fenomenologia de amor!
O meu Natal foi, também, uma festa quando tive família. Perdi os meus entes amados, todos, e vivendo esta magnífica data só, sem os elementos estruturais do amor humano de quem amei restando as saudades.
É um dia em que convido um ser humano para em minha casa viver o mistério da vida em Cristo, do nascer e morrer do Redentor!
O ser humano precisa do semelhante para se comportar no trânsito do existencial para o essencial.
Neste dia deixo, por momentos, o meu epicurismo, a minha clausura moral para abraçar alguém e dessubstanciar a saudade sempre latente no meu coração.
Viver só, sem família, é quase uma tragédia no sentido de Schopenhauer: “Viver é sofrer”.
Não existe a eliminação gradual da frustração viver sem família.
É um estado tópico de viver com o destino e criar a necessária comunicação com outros, considerando que a humanidade é um auxílio abstrato à minha misantropia.
Quem não ama, ou nunca amou, não tem uma perspetiva da essência da vida.
Eu já senti com fervor este condão benéfico no meu espírito veementemente no seio de uma família feliz!
Os amigos neste dia de universalismo branco, puro, de todo o lado mandam as suas mensagens, numa fraternidade histórica que me deixa ainda ser um ente bem-amado.
Milagre do Natal! Ser considerado pelos outros é a expressão de uma amizade forte e não um desejo efémero.
Quem já correu muitos caminhos fora e dentro deste país sabe, por experiência, que esta data tem características geográficas mas é sempre a unidade integral das relações dos seres num ambiente de festa.
E deve favorecer o apaziguar dos desentendimentos e da observação da inveja, do rancor, onde haja somente a solução de mal-entendidos.
Quase apetece dizer que o Natal é o anseio da paz, da amizade, de amor, a felicidade dos povos se a ânsia coletiva assim o desejar…
Não gosto do silêncio e da solidão que vivo pelas circunstâncias imprevistas, e é no Natal que sinto uma parcela do meu coração extravasar com os outros, a minha vizinha, de todos que passam pela rua distribuindo e recebendo saudações natalícias na perceção e na evocação de amizades que duram para sempre.
E isto é sortilégio do Natal.
Natal feliz para todos!