O conimbricense tem a inteleção do real e procura com o seu quid romanesco a imagem psicológica de si próprio e da cidade, criando nesta simbiose uma imposição de dizer não às circunstâncias negativas, pondo de parte formalismos vazios, lutando por uma cidade moderna e onde o esteticismo seja anti-esteticismo numa aquisição de todos os valores humanos, materiais e espirituais.
Se a cidade parece em certos períodos comprometida com a arte e a cultura no seu aspeto mais imediato, não tem de maneira nenhuma o atraso intelectual e o provincialismo estrutural de outras terras muito badaladas e mais favorecidas pelos governos centrais deste país e que aglutina tudo ou quase tudo para Lisboa e periferia, deixando ao ostracismo o valor intrínseco de terras com pergaminhos, como Coimbra na saúde, na educação, na intelectualidade que se respira e se vive na atmosfera da sua Universidade, escolas e institutos.
O seu impulso vital é latente em muita documentação urbana claramente expressa e a memória do tempo traz-nos o poder criador da sua população que se apaixona por factos numa intuição idealizada, numa miríade de impressões, invulgares, como na década de 40 do século XX com a sua Praia Fluvial, onde se realizaram campeonatos nacionais de natação e surgiram campeões absolutos, como Luís Conceição, Manuel Gaspar, Ilda Raposo, num calor humano ao vigor antropocêntrico no remo, na diversão da população a viver, por momentos, uma sã confraternidade.
Não cabe numa singela crónica mas em vários artigos, verticais e históricos, feitos com pedaços de nós próprios, habitantes da cidade, vivos e isentos de academismos enfeitados tão vulgares no formalismo rotineiro para afirmar que Coimbra viveu nesse tempo um saudoso bairrismo sem dogmatismos de qualquer espécie…
A cidade esteve sempre predisposta à arte e à cultura europeia ou do mundo.
Podemos afirmar pelo que vimos na nossa estadia no estrangeiro e onde Coimbra foi – e é – sempre uma referência e até a mulher portuguesa, mormente do Centro do país, tem uma graciosidade fidalga como fosse uma espécie de educação do povo, no seu facie diversificado a lembrar um quadro de Henrique Medina com as “suas mulheres” ou os “retratos” de Castro Lopes.
Mesmo as mulheres de Coimbra têm um certo pendor crítico, a sinceridade e a personalidade de falar um português cantante, coisa nata, já há muito verificado por gente do país e do estrangeiro.
Estes pormenores ou apreciações ao correr da caneta mostram um labor da cultura genuína do conimbricense, da mulher, já que o homem é um vivente histórico em todas as épocas…