Há dias deparei-me com aquela mulher que foi há anos uma talentosa artista. Ainda possui vestígios da sua beleza natural.
De gente bem instalada na vida com um curso superior resvalou para o pequeno crime. É uma mulher que não se liberta dos sentidos, das forças sensoriais luxuriantes e não integra em si os valores do espírito. É a antítese do que foi.
Cleptomaníaca corre atrás do pequeno “desvio”, do que pode furtar. Cruza as ruas das cidades onde a sua formosura seduz que esconde um drama, um vício, uma aberração. Frustrada de sentimentos cívicos!
Simboliza a “mulher fatal” com falsas tendências de amizade para levar a água ao seu moinho.
É assim esta criatura bem vestida que olha para os semelhantes com malícia, que assiste a reuniões, a concertos, que namora ora com um ora com outro, num sentimento venal e a imoralidade da sua conduta leva-a ao pequeno furto quando se demora um bocado mais com a “vítima” que pensa ter a seu lado uma amiga, uma conhecedora de arte. Conhecedora é mas no seu espírito existe o “desejo” ou a vocação do crime ou na sua patologia a ânsia de surripiar uma pequena coisa. Nem que seja uma palha!
O fenómeno afetivo não mora no coração empedernido desta ainda formosa mulher na vocação doentia de mexer naquilo que não lhe pertence e faz dela uma figurinha de Mefistófeles que não se emenda, que não se cura na ascensão ao dever cívico onde se vislumbre as forças do espírito e às regras da cidadania.
Já foi condenada com pena suspensa e trabalho comunitário.
A família fidalga, da alta burguesia, que a socorre quando tem conhecimento dos atos premiciosos.
Em regra é a família que repara os danos para evitar mal maior.
A vida é um fazer com as nossas ferramentas, dar novas, aparências ao velho, construir, amparar o outro, não fazer mal.
Usar o crime (pequeno roubo) como modo de vida é um ultraje à dignidade humana.
Há dramas que se cruzam com todos e não nos apercebemos da sua dimensão.
Assim haja compreensão para um caso que não é insolúvel. Em contraponto seria um bem que se fazia à honra da sua família onde militam homens e mulheres, de rara envergadura moral.
Vi, há anos, numa reunião onde a “visada” foi intérprete – como solista – num intervalo aconchegar isqueiros e outras “velharias” de duas carteiras de senhora!
Um caso clínico ou forense. Mas sobretudo do ato valitivo da “Sónia” (nome suposto) em galgar este muro e tornar a ser ela, como há vinte anos, na sua promissora carreira musical!…