23 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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MANUEL BONTEMPO

Postal Ilustrado

3 de Maio 2019

Quase apetece dizer que a caracterização do ser humano ou da paisagem portuguesa social é uma fatalidade histórica da corrupção que determina o crime muitas vezes impune a uma famigerada burguesia ou aristocracia económica ou ainda esquemas nitidamente criminosos de gente que se serve da hipótese de lugares que ocupam.

E é um problema de difícil solução.

O crime neste país atinge, por vezes, proporções elevadas e imensamente perigosas.

Os grandes sinónimos do sentido da justiça é a celebridade que conduza ao castigo.

O dinheiro ilegítimo, o suborno, a chantagem, as negociatas bancárias, os empréstimos absurdos cedidos pelos bancos, o tráfico de influências, a posição social e política, os agentes malfeitores de incapacidade mental mas, sobretudo os inteligentes no crime, banqueiros ou não, ex-políticos, gente investida em altos cargos que rouba, falsifica, alguns em nome do Estado, e pasma a maioria destes criminosos anda à solta. E alguns já condenados pelos tribunais. São as dezenas de criminosos económicos, de recurso em recurso, conseguem estar em liberdade. E por vezes outros farsantes envergam a desejada prescrição.

Nem todos os crimes são do foro psíquico, mas antes de indivíduos criminosos natos, que andam pela coisa pública e pelas autarquias, pela política, ou de hábitos adquiridos, mórbidos, que muitas vezes ficam por esclarecer pela discrepância ou exegese dos textos da lei.

Vive-se, em resumo, um período conturbado, de mal-estar em que o crime se escreve em todos os capítulos.

Veja-se o medonho crime doméstico, incessante e sempre a crescer, com a morte violenta de dezenas de mulheres já este ano de 2019.

A virtude da justiça estabelece-se sobre a relação do imediato, da honestidade em julgar, sem delongas, com a relação de proximidade no tempo e no espaço, ou seja, pela instituição do Direito, não ferindo o lesado mas punindo o criminoso, no adágio latino: “Suum cuique tribuere”, cada qual o que é seu.

Há uma visão dantesca ou regressiva que nos deixa, tantas vezes, atónitos com a criminalidade do dia-a-dia, de agentes do crime organizado sem o carácter intersubjetivo da responsabilidade.

Mata-se. Rouba-se. Executam-se de mil maneiras de lesar os valores éticos e morais dos cidadãos que cumprem o seu dever.

Os idosos são carne para canhão nas atividades dos energúmenos.

A solução existencial é a prática da ordem, do policiamento, da vigilância, da sindicância, dos pressupostos que se fundamentam na defesa da sociedade, numa espécie de absolutização do castigo como função primária do Bem mesmo que a justiça tenha, em certos casos, uma conceção psico-noética dos processos do conhecimento humano, do crime e das esferas universais do banditismo, servindo com eficácia a sua missão no combate a esta praga que esmaga os valores sagrados das comunidades e falseia o sentido histórico de uma terra, de um povo, de um país.

Vimos ex-ministros enrolados nestes esquemas de lesar o Estado e outras instituições por serem tão conhecidos é profundamente triste nomear aqui os seus famigerados nomes ou apelidos.

Uns servem-se de recursos sobre recursos para demorar o castigo e a consequente entrada na prisão.

É típico em gente graúda e com dinheiro (por vezes roubado) suster por largo tempo o castigo, merecido, ou seja a prisão. Muitos por artes mágicas livram-se da barra dos tribunais!

Deixámos há muito, de ser um país de brandos costumes ou de santa beatice e de repente surgiu uma onda imensa de crimes multifacetados, uma bizarra universalização do crime, num constante atentado à lei, à nossa soberania.

A máfia estrangeira opera no país com facilidade pasmosa. Está em toda a parte. Sofisticada. Altamente eficiente.

E o que se faz para escorraçar estes bandidos altamente perigosos?

É preciso um todo orgânico, algo regido por leis intrínsecas que, sem desvios faça combate ao mal, ao hediondo, e deixar-se as metáforas que tornam inteligíveis as normas legislativas, muito embora sejam “bonitos” os usos metafóricos de certos nomes pomposos, em leis muito bem enfeitadas e sem rigor prático.

Quadrilhas de malfeitores infiltram-se com facilidade no país e alguns banqueiros e outros de colarinho alto maltratam o erário público e, ao cabo de tantos anos, a experimentação, os dados empíricos, as causas de efeitos perniciosos, mostram a sua evidência, que somos um país de mera dialética partidária, sem motivações que transforme a injustiça imanente num mundo social organizado, motivando a consciência da justiça.

Parece haver uma profunda decadência específica de deixar correr à solta o crime embora os juízos objetivos da justiça nos transmitam uma atitude de relativa segurança.

Crise moral. Casos patológicos. Compadrio. Criminosos na Coisa Pública, tudo há neste nosso mundo conturbado.

Qual o sentimento do homem normal perante as leis do ser e da moral, da justiça expressiva que atue, que castigue o criminoso?

Os criminosos corrompem tudo, sistemas numa grandeza maquiavélica.

Um facto político de relevância será, sem dúvida, a moralização desta sociedade doente, velhaca, desprezível, cheia de ovelhas ranhosas.

Essas “ovelhas ranhosas” que estão em todos os lados, em bicos de pá, engravatados, quase sempre, em lugares de destaque.


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