Os últimos dados económicos divulgados pelo Eurostar e a OCDE estão a provocar uma onda de pessimismo, com a perspetiva de uma nova recessão mundial assustar os mercados.
É certo que os números estão longe de ser animadores. As quatro maiores economias do centro da Europa – Alemanha, França, Itália e Reino Unido, que juntas representam 62% do PIB da União Europeia – dão sinais de fraqueza. A Alemanha e o Reino Unido estão em risco de entrar em recessão no terceiro trimestre, a Itália está estagnada e a França continua a crescer muito modestamente.
Poderá a economia portuguesa evitar, neste cenário, uma nova recessão?
É evidente que os problemas das principais economias europeias, destino de 28% das exportações portuguesas, não deixarão de ter um impacto negativo na nossa economia.
No entanto, é preciso combater a ideia resignada e determinística de que não seremos capazes de crescer mais um cenário internacional mais adverso.
Em primeiro lugar, o panorama traçado pelo Eurostat mostra-nos que, apesar da fraqueza das grandes economias do centro, a periferia da União Europeia regista taxas de crescimento bem mais elevadas, num processo de rápida convergência económica.
Pelo menos sete países europeus cresceram a taxas iguais ou superiores a 3% no segundo trimestre deste ano. Outros cinco, cujos dados para o segundo trimestre ainda não são conhecidos, cresceram acima desta taxa no primeiro trimestre.
Entre eles está a Irlanda, o país europeu potencialmente mais vulnerável à deterioração do relacionamento com os Estados Unidos e ao brexit, cujo PIB aumentou 6,3%.
Todos estes 12 países europeus registam um peso das exportações no PIB superior ao de Portugal e, em muitos deles, a dependência dos grandes mercados do centro da Europa é superior à que se observa em Portugal.
Isto prova que é possível, mesmo em economias abertas, crescer de forma robusta num cenário externo desfavorável.
Em segundo lugar, face aos riscos que se avolumam, desenham-se já medidas de política económica para contrariar o seu impacto. O BCE confirmou que esta a preparar um pacote de estímulos à economia, que irá combinar uma série de instrumentos.
Na Alemanha, a ameaça de recessão poderá ser o catalisador necessário para o abandono da sua obstinada postura de excedentes orçamentais. O ministro das Finanças alemão já admitiu que poderia lançar um pacote de estímulo da ordem dos 50 mil milhões de euros.
Isto prova que a política económica importa, podendo e devendo ser manejada de forma a contrariar evoluções indesejadas da economia.
Também isso se aplica a Portugal. Não teremos a mesma margem, de manobra da Alemanha, mas podemos certamente redirecionar a política orçamental num sentido mais favorável à atividade económica, tanto pela via da fiscalidade como pela do investimento publico.
Quando os ventos mudam, não basta dizer que estamos no bom caminho, é preciso manobrar o leme e ajustar as velas.