23 de Maio de 2025 | Coimbra
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ORLANDO FERNANDES

Pontos de Vista: O novo rosto da crise

26 de Março 2021

A pandemia de covid-19 fez disparar os pedidos de ajuda a várias linhas de apoio em crise, adiantou na semana passada a agência Lusa. Mas entre situações de ansiedade, problemas psicológicos e solidão, há um novo fenómeno a surgir: os relatos de fome.

Segundo a agência, a fome foi um traço comum na linha SOS Voz Amiga, na linha Conversa Amiga, da Fundação Inatel, e no Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM. Em todas houve um aumento do número de chamadas desde março de 2020, quando começou a pandemia.

Anos depois da crise financeira que Portugal viveu a partir de 2010 e durante a intervenção da ´troika´, estas linhas voltam a locais de desabafos para muitos que face aos constrangimentos provocados pela pandemia, com a perda de emprego ou o encerramento de negócios, ligam em busca de um consolo, de um aconselhamento ou até mesmo de um encaminhamento para estruturais mais vocacionadas para o efeito.

Se no início da pandemia os alertas estavam focados em aspetos emocionais, aumentando número de chamadas relacionadas com a depressão, ansiedade, solidão, ideias suicidárias e problemas familiares, à medida que pandemia se vai mantendo começam a chegar, também, outras angústias relacionadas com problemas económicos.

Joaquim Paulino, presidente da Linha SOS Voz Amiga, explicou em declarações à agência Lusa que os voluntários deste serviço têm recebido chamadas de pessoas em desespero. Os contactos são anónimos, explica, não existido assim a vergonha de se expor.

“Há uma situação nova e há já alguns messes, quatro a cinco meses, que é de chamadas de pessoas a relatarem que estão a passar fome, e que têm vergonha de o admitir e este sofrimento é incrível”, explicou. O desespero, adianta, é ainda mais vincado em famílias com crianças.

“Um pai ou uma mãe que não consegue dar sustento para os filhos é uma situação desesperante”, disse, adiantando que face a estas chamadas a linha escuta as angústias e indica algumas entidades que estão no terreno e que podem ajudar as famílias nestas situações.

Desde o início da pandemia, em março de 2020, a linha SOS Voz Amiga, mantida com 35 voluntários, recebeu uma média de mil chamadas por mês, mais 400 em relação a anos anteriores.

Relatos idênticos têm chegado à linha Conversa Amiga, da Fundação Inatel, que tem vindo a receber chamadas relacionadas com a carência de produtos alimentares, insuficiência económica causada pelo desemprego ou diminuição de rendimentos, a par da violência doméstica, ocasionada pelos confinamentos, e da ideação suicida. Segundo a Fundação Inatel, a linha cresceu 39% em termos de chamadas atendidas e de Fevereiro a Abril esse crescimento foi de 269 por cento.

Já no caso do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM, foi registada uma variação de 88,9% entre 2019 e 2020 o que respeita às chamadas relacionadas com carências económica, Sónia Cunha, responsável do Capic, explicou em declarações à agência Lusa que as pessoas recorrem à linha 112 por saberem que têm sempre uma resposta e porque precisam de falar.

Uma outra linha de crise, a Vozes de Esperança, que existe há 10 anos, destacou a solidão como um dos principais problemas que levam as pessoas a procurar ajuda, ao ponto de ter sentido necessidade de criar, durante o primeiro confinamento em 2020, um acompanhamento de proximidade complementar à linha. Através do Porto Escuta, 20 voluntários acompanham cerca de 50 pessoas, em particular idosas, ligando-lhes diariamente e auxiliando no que for necessário.

De acordo com os últimos dados do Instituto de Segurança Social (ISS), entre Março de 2020 (quando foi decretado o estado de emergência por causa da pandemia provocada pela Covid-10) e Setembro, 32.036 pessoas pediram à segurança social para receber o Rendimento Social de Inserção (RSI), uma prestação social para quem está em situação de pobreza extrema.


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