O fogo é uma calamidade que poderia ser natural, face a elevadas temperaturas e condições ambientais propícias, mas na realidade, a maior parte das vezes não é espontâneo na fonte, sendo provocado por incúria ou por má-fé, do qual resulta destruição de recursos da natureza trabalho insano dos agentes da proteção civil, doença incapacidade e perda de vidas de profissionais e cidadãos, espólio económico-financeiro que poderia ser utilizado para fins sociais.
Verdadeiramente, o fogo pode ser na floresta, no mato ou em terrenos agrícolas, sendo nestes apenas em11% dos casos, o que demonstra que as condições de propagação e o direito de propriedade individual reduzem os riscos e a área atingida, enquanto extensões arbóreas densas e extensas, incluindo os baldios, são mais facilmente alcançadas pela depravação humana, desrespeitando o património, público, arrasando o ecossistema e a biodiversidade, cometendo crimes de lesa bens sem dó nem piedade.
Os interesses económicos sub-reptícios são muitas vezes motivações para a deflagração de fogos, a exemplo do que acontece na Amazónia, em que o conceito de área protegida não existe, há a criação e exploração de cimento em vez de madeira, há a especulação da própria madeira, o filão de turismo que recrudesce. O crime compensa quando não devia.
Há múltiplos fatores que os especialistas analisam pormenorizadamente, de forma meritória e merecendo crédito e ação de decisores, mas quando o civismo não impera e o desleixo é um padrão, quanto aos fogos, acontece como no caso de alguns donos de animais que os passeiam se trela (ou trela na mão, desligada do animal) e não recolhem os dejetos que produzem, assobiando para o lado e invetivando quem, lhes chama a atenção, em nome da lei (que fazem por ignorar).
É duvidoso que seja útil a mediatização dos fogos, com a comunicação que vive da imagem e das audiências, em diretos e notícias repetidas até à exaustão, ocupados todos os canais de informação (e especulação), explorando emoções e sentimentos de vidas desgraçadas e famílias desoladas pelo fogo selvagem que lhes engole os bens (por vezes escassos bens.)
Informar as pessoas para gerir as suas vidas em função dos acontecimentos, como os locais dos fogos, na sua gravidade e consequências, ouvir técnicos de proteção civil e ambiente, mesmo culpar quem é culpado (sem direito à presunção da inocência?), não é o mesmo que entrevistar pessoas em agitação e sofrimento, vendo a sua vida a andar para trás, donde não resulta qualquer ação esclarecedora ou profícua, nem sequer a atribuição de um ato de coragem aos jornalistas. E, entretanto, com os fogos, foram esquecidos os dois piores dias de guerra na Ucrânia, que constituía até então, o pleno dos canais e informação.
Haverá sempre quem culpabilize o Governo (este ou outro), porque a legislação não é suficientemente penalizadora (ou castradora…), porque a fiscalização da eliminação das faixas de combustível não existe (ou devia ser um fiscal por cada português), porque os meios de combate aos fogos são insuficientes (bombeiros que são verdadeiras vítimas, aviões que nunca são demais),porque a organização da proteção civil não é a melhor (e alguns escândalos…), porque a prevenção faz-se desde as escolas (faz-se?), porque o Governo tem uma ideologia (e outra ideologia, o que tem para fazer melhor?).
Há fogo na floreta. Não se trata de um livro (apenas) ou de uma aventura, mas de uma catástrofe que anualmente delapida recursos e vidas, esgota meios de combate, impede diferente gestão, engenho e fórmulas disponíveis para fins sociais, provoca dor e um futuro ensombrado.
E como são escassas as organizações de defesa da floresta, em democracia participativa e exercício de cidadania, ao contrário de numerosas e legítimas estruturas reivindicativas, de problemas major ou menor.