“Poemas de Outono e Inverno – Poemas da Finitude” é o título do último livro de António Arnaut, um “livro de despedida” que foi lançado na segunda feira, 28 de janeiro, dia em que o autor completaria 83 anos.
Esta obra, uma edição da MinervaCoimbra, foi cuidadosamente preparada pelos filhos – António Manuel, Ana Paula e Manuel António – e por Isabel de Carvalho Garcia, responsável pela editora, em resposta a um desejo do autor. Apresentado na Casa Municipal da Cultura, pelo professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Delfim Leão, o livro reúne poemas que foram escritos entre setembro de 2017 e maio de 2018, logo a seguir à publicação de “Um homem que partiu do seu regresso”.
Isabel Garcia recorda que este foi “um livro planeado”, que resulta dos seus vários encontros com António Arnaut onde tinha o prazer de ir lendo e ouvindo os poemas que o autor ia escrevendo, recorrendo à poesia para manifestar “o seu estado de alma” e expressar “os seus valores”.
Entre o dizer de um poema novo e os comentários naturais de quem, desde sempre, esteve atento à situação política e social que se vivia no país, dedicando um cuidado especial ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), que fundou e a quem carinhosamente continua a ser chamado de “pai”, António Arnaut ia criando, mesmo sem inicialmente se dar conta disso, mais um “filho”, este literário, que se junta agora aos mais de 40 títulos que publicou.
A ideia de lançar um novo livro surgiu de “improviso”, numa conversa entre estes dois amigos. Mas, já nessa altura, Arnaut estava atento ao tempo, ou à falta dele, certo de que estes poderiam ser, como o próprio título do livro indica, os “poemas da finitude”. Isabel Garcia recorda que Arnaut lhe dizia com frequência “olhe que eu não tenho tempo”, deixando-lhe nas suas mãos e nas dos filhos a “missão” de trazer este livro à estampa, numa espécie de “livro de despedida” onde dá, a todos nós, um pouco mais de si, mesmo depois da sua ausência sentida.
“Foram horas de partilha e conversas que muito me enriqueceram, e que agradeço. Consciente da escassez e da efemeridade da vida, António Arnaut pedia mais tempo para si, para a família, para os amigos. Tinha ainda tantos caminhos a percorrer, tantos puxões de orelhas para dar, tantos telefonemas para fazer, tantas palavras, tantos poemas para nos encantar”, realçou Isabel Garcia.
Durante o lançamento da obra, António Manuel Arnaut recordou, de forma emotiva, o pai e o amigo, bem como todo o seu percurso, evidenciando a sua obra maior, o seu eterno “irmão”, o SNS, apelando a todos para que defendam esta conquista maior do seu pai, aquele que, como o próprio António Arnaut afirmava, foi o seu “melhor poema”.
Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, evocou também com saudade Arnaut, seu padrinho de casamento, considerando que esta obra se assume também como uma homenagem que ajuda a perdurar “a memória e o legado que António Arnaut nos deixou na sua obra literária”.
O apresentador Defim Leão, que se encontra a estudar a obra poética de António Arnaut no âmbito de um projeto internacional, considerou que o autor manteve nesta obra a coerência poética, sem mudar os temas que perpassam a sua obra.
António Duarte Arnaut nasceu na Cumieira, no concelho de Penela, a 28 de janeiro de 1936, tendo falecido, em Coimbra, no dia 21 de maio de 2018. A sua obra literária é constituída por mais de 40 títulos publicados, sendo de destacar “Recolha Poética”, “Contos Escolhidos” e o romance histórico-político “Rio de Sombras”. Em julho de 2017 as Edições MinervaCoimbra publicaram “António Arnaut – Fotobiografia”, com coordenação de Isabel de Carvalho Garcia a que António Arnaut chamou “obra monumental”, que esperou com “grande ansiedade”, como recorda a coordenadora. No mesmo ano, em outubro, a mesma editora lançou “Um homem que partiu do seu regresso e outros poemas”. “Poemas de Outono e Inverno – poemas da finitude” é o seu último livro, sendo a foto da capa da autoria de Luiz Carvalho, com Coimbra e em Coimbra, assumidamente uma das suas grandes paixões.