É pelo inverno que se podam os sinceiros, aquelas árvores de cor amarela que em tempos circundavam as propriedades agrícolas ou ocupavam as zonas mais húmidas e alagadiças. Falamos dos vimes amarelos concretamente, e não de qualquer outra espécie das muitas que entram na classificação dos salgueiros que, pela sua textura, não são maleáveis, enquanto os primeiros torcem e retorcem, atam, desatam e não partem à primeira! Daí dizer-se que só sabe empar quem souber torcer a verga. A empa, saída dos ramos pendentes, é junta em molhadas e depois colocada pelos homens à cinta que a utilizam com mestria por altura de fixar e guiar as varas das cepas. Volvendo no tempo, encontramos múltiplas referências à existência de cesteiros por estas terras que, devido à maleabilidade desta verga, a utilizavam para fazer os modelos de cestos necessários às diversas atividades agrícolas.
Ao longo dos tempos nunca estes sofreram alterações, pelo que não foi difícil aprender a fazê-los e daí o provérbio cesteiro que faz um cesto faz um cento, assim tenha verga e tempo! Por aqui sempre houve o chamado poceiro maior, também designado cesto de vindima ou das espigas, que no primeiro caso e quando acaramulado tinha uma capacidade que rondava os quarenta quilos, a que correspondia um almude de vinho. E havia o poceiro mais pequeno geralmente utilizado na apanha da batata que levava à volta de vinte e cinco quilos. Paralelamente a estes existia a poceira, também designada por cesto de estérca, mais pequeno ainda que o anterior, sendo a sua configuração um pouco atarracada, mas alargada ao nível das asas, para mais facilmente ser transportada no trabalho. Como indica o nome por que é mais conhecido, servia essencialmente para as mulheres, na altura da sementeira, espalharem o estrume pelas terras, o que elas faziam com uma das mãos, enquanto com a outra o apertavam contra a ilharga. E havia ainda o cesto de arco ou cabanejo que suportava um peso entre doze e catorze quilos, usado em múltiplas funções: para vindimar, para transportar as batatas de semente cortadas do poceiro para o rego já aberto, para a hortaliça e a fruta que era apanhada diariamente, para levar a água e o comer quando se ia trabalhar fora de casa,…
De grande utilidade eram ainda os seirões, ao cabo e ao resto dois cestos fundos, unidos um ao outro, o que permitia serem colocados no dorso dos burros, como se fossem as cangalhas e, mais tardiamente também, no suporte das bicicletas. A quantidade de produtos que ali podiam ser transportados era enorme, sendo frequentemente utilizados pelas tremoceiras, salientando-se de entre elas as de Cadima, e ainda pelas ajuntadeiras de ovos e pelas trocadeiras, como refere Idalécio Cação nas suas Crónicas Gandaresas.
A caminho dos mercados da Tocha, de Febres e de Cantanhede, ainda se veem bicicletas com os ditos seirões agarrados, levando os excedentes que os pequenos agricultores ali procuram vender ou o que ali foram comprar. Curiosamente, na Fontinha das Febres avistámos um destes seirões numa bicicleta. Ali pudemos contar com o testemunho da tia Lúcia que o utilizava para recolher em certas casas a lavagem para o porco de ceva, sendo dela a informação que naquela localidade há ainda um cesteiro ao pé da capela, que faz estes seirões, e que o seu, há já alguns anos, custou vinte e cinco euros.
Tudo isto vem a propósito termos encontrado no mercado da Tocha num destes domingos um conjunto de cestos, onde se mostravam todos os que acima referimos. Tal viria a proporcionar-nos este registo a partir da troca de impressões com o seu vendedor Júlio Melo que sempre vem de Ílhavo para estas feiras, sabendo bem o que por aqui ainda se procura, tendo-nos inclusivamente informado dos seus preços: os poceiros de vindima custam vinte euros, os das batatas quinze, as poceiras quinze e os cabanejos dez, estes últimos muito práticos e originais que tão bem ficavam se fossem utilizados por quem vai às compras – avançamos nós. Apraz-nos ainda termos conseguido efetuar o registo fotográfico dos exemplares de que aqui falamos e que ainda no passado domingo estavam à venda no mercado da Tocha. Uma bonita prenda, que sempre cabe em qualquer espaço e, acima de tudo, fala da nossa identidade!