Existe nesta artista multifacetada, poeta, ensaísta, conferencista, escritora, viajante do mundo, uma discriminação formal da arte de tendências surrealistas, fulgurantes e nebulosas que lhe regula a ideia como criadora de mitos, metáforas, símbolos, num ato livre segundo a disposição da razão, da apreciação do cosmos.
Henriot é singular. Teórica e hermética. E por vezes parece desgovernada no desenho e no esquema do conteúdo que o seu terreno doutrinário, único e ingénuo, partindo do desconhecido para o finito para “entender” o mistério da arte sem os surtos tradicionalistas dos aberrantes academismos.
Despoja-se de si mesma para mostrar os seus quadros sem maneirismos e meras adiposidades, pinta, num aspeto formulado com clareza, pela enunciação direta dos tons, dum variadíssimo cromatismo que se enlaça e onde a figura humana aflora, os objetos práticos dum singular impressionismo se confunde, também com o surrealismo compreensível pelo traço nervoso, pela perspetiva, pela cultura gaulesca que define logo o valor da arte.
Henriot quando das suas exposições em Portugal não usou o oco da substância e o “sentimento” da criação é um cruzeiro na arte contemporânea, como se notou em Coimbra, mercê do estilo, da ideia e conceção da arte, consciente, que reflete sob o seu ponto de vista uma estética edificante, quase uma poesia barroca do verbo purificador. Foi um ar fresco na nossa cidade a estadia desta pintora num processo de decomposição do “quadro” para juntar os átomos num “todo”, como procedia Ortiz e Utrillo, este o pintor das ruas de Paris, boémio e ascético.
Ou, ainda, Lalande Preciosa em pormenores bizantescos por Espanha e Norte de Portugal nos anos 50 do século XX.
Do apriorismo formal esta pintora mostra personalidade no mero quotidiano, em beleza retrativa, em ciclos de arte, vitalista e dinâmica não obstante os parques nas impressões subjetiva, como ficasse muda perante a criação e isso é apanágio dos bons artistas, mesmo dos génios e Henriot em certos quadros impõe uma apologética moralista que engrandece o seu vistoso trabalho numa figuração numa linha ultra romântica que lhe confere uma atmosfera de poesia.
Isabel Zamith, Berta Godinho, Marta Dinis e mesmo Alda Belo, Laurinda Alves e Jacinta Cosmo impressionaram a crítica com fulgurantes pormenores nos seus trabalhos.