O Município de Penacova celebra no sábado o “Enterro do Bacalhau”, um cortejo satírico que foi proibido no Estado Novo e que agora duas associações do concelho procuram recuperar, 90 anos depois da última celebração.
A associação cultural Partículas Soltas e o Coro Vox et Communio retomam assim, precisamente no Sábado de Aleluia, esta festa pagã, que dava voz à sátira e à crítica social.
A tradição consiste num cortejo satírico, no qual populares, “fartos” de 40 dias a comer peixe por altura da Quaresma, decidem julgar o bacalhau (o peixe mais comido) e condená-lo à morte, explicou à Lusa a diretora artística da Partículas Soltas, Sandra Henriques, que contou que a ideia surgiu depois de ter visto num jornal local crónicas do professor e profundo conhecedor da história de Penacova, David Almeida, que falava sobre o “Enterro do Bacalhau”. Decidiu então investigar mais sobre o assunto e apercebeu-se que a tradição tinha sido interrompida em Penacova em 1932, por imposição do Estado Novo.
“Achámos que 90 anos depois já era tempo de se sair para a rua e brincar com isto”, sublinhou, referindo que estarão cerca de 50 pessoas envolvidas nesta encenação. O cortejo inicial sair de junto da Câmara, pelas 16h00, com um caixão enfeitado com cebolas e alhos.
“Depois, há o julgamento, em que recuperamos textos antigos, escritos em quadra, em que se condena o bacalhau porque cheira mal, porque vai sempre parar ao prato das pessoas. Há também quem defenda o bacalhau e quem chore por ele, como é o caso da Quaresma, do alho ou do azeite, mas o próprio tribunal quer condená-lo – é um tribunal pouco imparcial”, contou Sandra Henriques.
Após a condenação, segue-se um cortejo fúnebre, com o bacalhau a ser sepultado junto ao Cruzeiro de Penacova, acompanhado de um coro que vai fazer as vezes das carpideiras.
Sandra Henriques disse esperar que no futuro outras associações e pessoas de Penacova se juntem ao “Enterro do Bacalhau” para o ajudar a crescer.