A poesia acontece. Quase sempre acontece. Não se faz, não se fabrica. Assistimos hoje a uma poesia que é feita nas complicações herméticas, com baixos de intelectualista, indecifrável ou sensualista ou ainda com facilidades oferecidas pelos livreiros de todo um bem-estar de obras pequenas, reduzidas, mal proporcionadas no valor intrínseco e com as tradicionais banalidades, mas que servem de prato de mesa para elogiosos lançamentos, com pompa e circunstância, com os habituais snobs do burgo, as senhoras alindadas nas melhores vestimentas, num festim de palmadinhas nas costas.
Debuxa-se nesses livros uma série de caricaturas e as habilidades ou artimanhas pela fama do bairro, num festim sibilino fabricado em série como quisessem usar o esquema lógico dos clássicos ou, para espanto, auto dominados da poesia revolucionária ou de arautos dos iluministas dum novíssimo verbo.
Por vezes surge o aberrante!
Paulo Ilharco é um dos maiores poetas deste país e o mais representativo da nossa cultura coimbrã, o mais seguro, desconcertante; criar e recriar é a função pedagógica deste poeta ao estar sempre nos seus magníficos livros do mistério das palavras, das alegorias, das metáforas ou, ainda, por uma angústia avassaladora de desejar a salvação da espécie humana ou a salvação humana!
A sua poesia estimula o leitor e aguça as emoções, aflora as consciências quando se associam as formas e se esmiúça os fenómenos psíquicos, o interior da pessoa, quando este distinto poeta, nos dá o seu canto tão diferente, que nos agarra e devoramos os seus livros e seguidamente fazemos leituras serenas, e pensamos que a sua inquietação intelectual é quase um monólogo interior do leitor que ama a poesia, como a arte que faz parte do íntimo da alma!
Foi isto que senti particularmente na odisseia da minha grave doença!
O mistério da poesia é diametralmente oposto a uma mera absolutização do verso.
Existe nos livros de Paulo Ilharco uma consciência, uma evolução social, uma aquisição da experiência e ainda romanticamente uma nostalgia da saudade. É uma veemente forma singular de afeto. E o poeta em grande parte da sua já longa obra tem a “saudade” sujeita a um casto fenómeno da sua poesia na palavra, no conceito, no encanto de ser “poeta”, dos maiores de todos os tempos de Coimbra!
Existe uma sequência de visões e de sentimentos nos seus livros e transparece neles uma humanidade reflexo para muitos o mais importante da sua poesia que toca, não raro, no tecido das paixões humanas.
O professor Ilharco tornou-se um poeta de nascença e motivou a publicação de uma Obra já extensa, homenageada pela crítica e lida pelos leitores fiéis à arte de Camões.
Salpicada a sua poesia pelo romantismo e pelo classicismo é já um marco na nossa cultura e os seus livros têm todo o respeito pela arte e nunca forjou gato por lebre como muitos que por aí andam, aos saltos, que sujam a beleza do universo num desprezo pelos belos frutos que são os poetas de raiz!
Paulo Ilharco tem uma grandiosa obra, única em Coimbra, as suas experiências pessoais são horas solitárias no meio da imaginação de apontamentos, de livros, da literatura do país e do estrangeiro onde desenvolveu um estilo, único e glorificado no meio culto e fez dos versos os seus êxitos que tornaram o professor de literatura uma profunda influência na consciência coletiva do amante da arte.