A minha ligação à imprensa regional é muito antiga, tendo eu tido contacto com ela nos primeiros anos da minha vida. Lembro-me bem da ligação afetiva que o meu pai, enquanto emigrante, mantinha com o jornal regional “A Voz de Loulé”, que assinava e que o informava das notícias da sua terra natal, a milhares de quilómetros de distância. Também para mim, foi através desse jornal o meu primeiro contacto escrito e de leitura com a língua portuguesa.
Assim como o meu pai, o mesmo aconteceu e acontece com milhões de portugueses aquém e além terras lusitanas. Para além de muitos outros aspetos, esta ligação afetiva a inúmeros jornais locais e regionais amenizou a saudade, fortaleceu a esperança do regresso, mantém elos nativos, é por ventura para muitos o primeiro contacto com as notícias escritas.
Em Portugal, a imprensa regional e local tem uma importância que é muitas vezes desvalorizada, erradamente. De facto, estudos como o feito pela Marktest em 2009 mostrava, então, que mais de cinco milhões de portugueses liam regularmente jornais regionais. A notícia da atualidade local e regional é do maior interesse dos cidadãos que assim melhor se veem identificados com ela, sendo este, entre outros aspetos, um elemento propiciador para uma melhor democracia pluralista, para uma maior consciência de cidadania participativa.
A imprensa local e regional é de extrema importância para os hábitos de leitura dos portugueses, muitos deles com um grau de literacia muito baixa, num país que conquistou nas últimas duas décadas um número significativo de doutorados. Será que estes últimos também leem jornais locais e regionais? Em Coimbra a resposta é positiva. A leitura dos jornais regionais é transversal a toda a sociedade conimbricense, desde a Baixa à Universidade.
Neste contexto, a presença de artigos de divulgação de ciência e tecnologia na imprensa regional é de extrema importância para o aumento da cultura e literacia científica da população Portuguesa. Por isso, foi com muita honra e espírito de missão que aceitei o convite que me foi endereçado em 2009 para escrever, com regularidade, crónicas de divulgação científica neste agora centenário jornal. É um serviço público de promoção da cultura científica que “O Despertar” promove.
Por isso, não posso deixar de endereçar os meus mais sinceros parabéns ao “O Despertar”, não só na data do seu aniversário, como é o caso agora, mas sempre. Parabéns!