Não é necessário um cenário perfeito, nem estupendas belezas naturais ou humanas para ir de encontro ao que é a poesia, este modo singular de escrever e declamar em verso amarguras e contemplações, desabafos e celebrações. Todos nascemos invólucros de um certo poema, mesmo que nem todos entendam o que é a poesia e que há sempre um lado poético em qualquer Ser.
É perante um oceano de palavras e de gestos vadios que se pode definir na sua plenitude a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen. Nascida no Porto em 1919, cedo se deu a conhecer como poetisa. Com o tempo foi amadurecendo e vingando os seus versos, conquistando qualquer leitor com a ligeireza das suas palavras e com a mensagem que os seus poemas transmitem. Com poucas palavras Sophia diz-nos muito, é notável a sua virtude de fazer chegar muito com pouco. Todas as letras desta Mulher nos fazem embarcar numa poesia luminosa e leve, não só através das suas estrofes, mas também pela sua prosa e toda a obra literária dedicada às crianças, tendo dos mais belos livros destinados aos petizes, obras que nenhum adulto deveria ignorar.
As gerações mais recentes conheceram Sophia através destas histórias tão didáticas e encantadoras. Foi assim que a conheci, através de “A Menina do Mar”, “A Fada Oriana”, “O Cavaleiro da Dinamarca”, “O Rapaz de Bronze” ou a “A Floresta”. Após a sugestão destas leituras, sem qualquer recusa logo embarquei naquelas palavras ilustradas e apetecíveis. Sem dúvida que são estas obras mais singelas, assim como os seus contos o ponto de partida para entrar no mundo de Sophia. Encontramos nestas narrativas, felizmente ainda presentes no plano nacional de leitura, a sua poesia mais simples e direta, mas depressa se pode chegar aos poemas desta sereia das palavras, procurando ler os mais belos versos de liberdade, de elegância, de frescura, de um jardim ou do próprio mar, o elemento que fielmente é capaz de descrever parte do seu percurso literário.
Creio que terá pensado querer viver na Grécia, mas apenas lhes restaram as muitas viagens que lá fez. Muitos nomes poderíamos sentar à mesa com esta amante de viagens, como Jorge de Sena, Miguel Torga, Manuel Alegre, Agustina Bessa Luís, pessoas com quem partilhou profundas amizades, nomes que hoje associamos a “clássicos”, não sendo necessário se unirem para defender e apresentar as suas grandes carreiras literárias.
Numa vida feita de “Navegações”, Sophia merece para sempre ser lida, pois não é necessário estar perto das ondas para melhor saborear os seus versos ou contos, ao ler as suas obras o mar vem até nós, a natureza invade-nos as mãos.
“Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar.” – Sophia Andresen (1919-2004)