Completaria, agora, cem anos de franciscanismo. Tinha 36 anos (nasceu em 1887 em Galegos, Penafiel) quando abraçou a causa franciscana. Evocamos o “PAI AMÉRICO”, Padre AMÉRICO MONTEIRO DE AGUIAR, fundador em Bujos, MIRANDA DO CORVO, da primeira CASA DO GAIATO. Foi o grande humanista, benfeitor e precursor, na última centúria, no apoio aos pobres e aos rapazes da rua. Fez estudos secundários em Penafiel. Empregou-se no Porto; alguns anos depois partiu para Moçambique onde trabalhou como despachante. Em 1923 regressa ao seu concelho natal e fala com o pároco local, antigo companheiro de escola, a quem manifesta o desejo de ir para um convento franciscano. O que o motivou? “Foi uma martelada” – explicou. Seguem-se Tui, Seminário do Porto e, finalmente o Seminário de Coimbra onde se licenciou em Teologia. É nomeado capelão em CASAIS DO CAMPO, freguesia de SÃO MARTINHO DO BISPO. O Bispo de Coimbra encarrega-o, em 1932, da SOPA DOS POBRES e eis que um caminho de amor e paternalismo fica aberto. Consta que foi numa ida à Escola Primária de SÃO PEDRO DE ALVA que idealizou a futura CASA DO GAIATO.
Algumas vezes, nos meus sete ou oito anos, fiquei fortemente impressionado com esta figura do PADRE AMÉRICO que se deslocava de comboio a Miranda do Corvo e a quem o meu pai, na época chefe da estação da CP, dedicava uma deferência, admiração e amizade que mais tarde compreendi efetiva e afetivamente. Nas suas escuras vestes enormes, chapéu de abas largas, o “PAI AMÉRICO” vinha a pé dos BUJOS até à estação da CP, seguido por dezenas de crianças recolhidas e apoiadas pela sua CASA DO GAIATO mirandense. As crianças não entravam na estação e muito educadamente esperavam a partida do comboio para dizerem adeus ao seu TUTOR, ao seu PAI. Um dia, um seu sorriso especial que guardo com alguma imprecisão, face ao tempo que passou, iluminou-me. Alguns dias depois o meu pai, constrangido a olhar a capa do Jornal de Notícias, diz-me: “Morreu o Padre Américo”. Tinha sido vítima de um acidente rodoviário. Aquela luz de há alguns dias transformou-se em trevas na minha consciência pueril – ou terá sido mais tarde? Sei que fiquei marcado por aquela notícia. Eu tinha os meus pais. Aqueles meninos dos Bujos, lá muito em cima em relação à Cruz Branca onde se situava a estação, tinham perdido o pai. Mais tarde vim a saber que também o país perdera um dos maiores humanistas portugueses, criador de várias Casas do Gaiato, das Casas do Património dos Pobres, do Lar dos Ex-pupilos da Tutoria e de diversas instituições de apoio aos carenciados, particularmente crianças e jovens. Nesta próxima segunda-feira, dia 23, procurem conhecer a vida e a obra do “PADRE AMÉRICO”. Recordem que se completam nesta referida segunda-feira 136 anos sobre o seu nascimento e que há centenas ou milhares de grandes portugueses que foram educados pelas CASAS DO GAIATO sob o espírito benfazejo e eterno do “PAI AMÉRICO”.
REGINA ROCHA, A EXCEÇÃO E A EXCELÊNCIA
Recentemente foi homenageada na ESCOLA SECUNDÁRIA JOSÉ FALCÃO a Drª MARIA REGINA ROCHA. Tive o privilégio de ser seu colega na docência na
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE COIMBRA (ESEC) e acompanhei, nos últimos anos, com fervoroso interesse e admiração, a atividade desta professora
no seu magistral ensino de PORTUGUÊS e por quem os alunos mostraram sempre uma admiração especial. Tive ainda o privilégio de acompanhar gravações da Drª
REGINA ROCHA na RTP/RDP, nos estúdios de Coimbra, dedicadas a programas a nível nacional da língua portuguesa. Consultora emérita do CIBERDÚVIDAS
da LÍNGUA PORTUGUESA, desempenhou com notável esmero e proficiência diversas funções, para além das pedagógicas e didáticas, na ESCOLA
SECUNDÁRIA JOSÉ FALCÃO DE COIMBRA e na ESEC. Sente-se a sua vocação e paixão pelo Ensino e pelo culto da Língua Portuguesa. Tive a oportunidade de
felicitar o seu percurso nas colunas do nosso jornal O DESPERTAR à volta do último Dia Mundial da Língua Portuguesa reclamando que a cidade e o país
reconhecessem o valor desta professora. Para além da recente justa homenagem à qual nos associamos, estamos felizes por sabermos que a título excecional a DRª
REGINA ROCHA pode continuar a lecionar, para além dos 70 anos de idade, na JOSÉ FALCÃO. Será, provavelmente, o único caso no país ao nível do ensino
público. É uma honra para Coimbra esta excecionalidade. E esta excelência.