Falo do tempo em que a nossa gente lavava nos rios, nos rios que corriam das serras para o mar, e naqueles outros, que não tendo caudal, também eram conhecidos por rios. Estes são os lavadouros públicos das nossas aldeias, que o povo assim apelidava porque a água nascia por ali e era de todos. E se naqueles havia as lavadeiras que procuravam à sua beira um regato com pouco caudal para sem perigo lavarem a roupa contratada com as senhoras, nestoutros eram as mulheres da casa quem o fazia, geralmente ao domingo à tarde, pois tratava-se de um trabalho leve e daí não ser pecado! Quer num lado, quer no outro, se necessário fosse fazia-se a barrela no local e corava-se a roupa: acolá no areal do rio, aqui num relvado adjacente a que chamavam coradoiro e que era preservado e cuidado para o fim em vista. Acontece que nos lavadouros havia umas lajes de pedra sendo as peças ali ensaboadas, esfregadas e depois colocadas dentro de tanques onde a água entrava até transbordar, enquanto no outro rio eram ensaboadas e esfregadas sim, mas numa qualquer pedra ocasionalmente ali encontrada, não se desviando a água do seu leito a não ser para os tais regatos ou canais.
Um outro sítio onde desta vez na Gândara as famílias mais numerosas lavavam a roupa era à beira dos poços de engenho, por altura da rega do milho. Aproveitando a água que caía dos alcatruzes para o caneleiro e antes que entrasse na regadeira, a roupa do dia-a-dia, que nunca abundava nas casas de gente pobre, era muitas vezes ali lavada! Nestas terras de areias, domingo de ir para o rio era dia de namoro e de cantar ao desafio, mas era também dia de saber novidades! E é com satisfação que registo o manifesto interesse que tem levado as pessoas a manterem e recuperarem os lavadouros , sem que na verdade se pense virem de novo a ser utilizados, mas porque são reconhecidos como marcos históricos que dizem da nossa identidade.