A tecnologia não espera pela adaptação. A evolução é imensurável, procura melhorar o dia a dia de todas as pessoas que estão abertas a novos métodos de fazer as coisas mais corriqueiras. Ir às compras… e se for às compras em casa? O próprio verbo ir implica um movimento, segundo o dicionário, ir significa “mover-se de um local para o outro”. Parece fruto de uma utopia quando cogitamos uma ida ao supermercado num aparelho eletrónico. Parece irreal, mas não é, acedemos ao site do supermercado eleito, e colocamos num carrinho fictício todos os itens que ansiamos ter em casa. Bem, afinal até há um movimento, temos que agarrar no nosso dispositivo e seguir os passos para fazer uma compra bem sucedida mas não é propriamente uma locomoção. O pagamento é feito quase miraculosamente pelo aparelho e, depois do som estridente da campainha, as compras chegam a casa. Será que foi um sonho? O que não foi mera quimera foram os euros que nos saíram da conta, é aí que nos bate a realidade.
É tudo tão fácil, tão simples de aceder e parece que, quanto menos idade se tem, mais facilidade há em entender a progressão da tecnologia. Onde ficam os avós no meio desta explosão de futurismo? Iniciei esta reportagem com uma premissa que pode responder a esta interrogação. A tecnologia não espera pela adaptação. Serão os nossos avós (como quem diz carinhosamente os nossos velhinhos), capazes de acompanhar esta evolução? Falei com José Gomes, um senhor na flor dos seus 74 anos, residente em Pombal que, sentado na sua cadeira (de massagens), nos alertou, “esse não funciona, não faz massagens, não funciona”, referindo-se a um sofá trivial que todos temos lá por casa. A tecnologia já o acompanha, até o ato de estar sentado na cadeira se tornou mais prazeroso depois daquela aquisição. “Já tem muitos anos mas funciona bem, eu não descuro uma boa soneca nesta cadeira”, conta. Não precisei de introduzir o tema da tecnologia para o José pegar no seu segundo tablet. “Já tive um tablet antes deste, era mais pequeno e estava muito lento, já não me acompanhava”, revelou entre risos. Afinal a tecnologia é que não acompanha os nossos avós!
José acorda todos os dias por volta das 7h00, rega a sua horta, cultiva o que tem a cultivar e apanha frutas e legumes. “Faço isto tudo sem tecnologia, não uso regador elétrico, cultivo e apanho a horta à mão, nem sei se já inventaram algum mecanismo para fazer isso, mas se já, deve ser caríssimo, a minha horta não tem dimensão para tal investimento e eu também não quero ser um sedentário”, explica.
Ainda com o tablet na mão procurei entender como o José o utilizava, mostrou-me logo a sua rede social repleta de fotos e vídeos de cariz cómico. “Quem me criou este facebook foi a minha filha, inicialmente não entendi muito bem, era confuso até, mas agora compreendo perfeitamente. A minha foto de perfil é com a Irene, a minha mulher, tirámos esta foto com o meu telemóvel, numa aldeia aí por Pombal, encontrámos um burro e uma carroça de metal, achámos engraçado, então publiquei”, conta.
José mexe no facebook com a mesma desenvoltura com que descamisa o milho, parece uma comparação inusitada, mas para este senhor, apesar de serem tarefas distintas, ambas requerem muita dedicação e, acima de tudo, experiência. Lá em casa nem todos são adeptos destes dispositivos progressistas. “A minha mulher não usa nada destas coisas, diz que não tem tempo, eu acho é que ela tem receio de não entender nada”, admite.
José não se assusta com os contínuos progressos, nem se atrapalha com as novas tecnologias. “O mundo é feito de avanços, se não avançamos estagnamos e ninguém quer parar”, remata. Se “o sonho comanda a vida”, como já dizia Fernando Pessoa, pois, a vontade também comanda a vida. Os avós também podem fazer log in, podem acompanhar este mundo evolutivo, em constante mutação, se tiverem vontade, vontade de aprender, de conhecer e perceber que há ainda tanto para aprender com 70, 80 ou mais anos.