Sem preparação, ao discorrer da memória, evoco hoje um espetáculo em Lisboa há quase dez anos: como o tempo passa e como ficam tantas saudades dos que partem!

Foi no Cinema S. Jorge a 8 março de 2012. Numa iniciativa do saudoso CARLOS CARRANCA que nos deixou de forma prematura, decorreu uma NOITE DE COIMBRA intitulada A GUITARRA, O CANTO E A POESIA (DE COIMBRA). Nas primeiras filas, e para além de presenças que se destacavam como MÁRIO SOARES e ADRIANO MOREIRA, estavam vários elementos do BAIRRO NORTON DE MATOS. Aliás, esta evocação surge por estarmos quase a completar dez anos e porque entrei no blogue ENCONTRO DE GERAÇÕES alusivo aos moradores do Norton de Matos em publicação de DOM RAFAEL, O CASTELÃO e fotos de SUSANA REDONDO e CÂMARA LENTA. Este acesso que fiz ao blogue avivou-me a memória e uma década passada que já apetece recordar. A lembrança desta noite coimbrã e académica, de fado, poesia, arte e sentimentalidade fere-nos também o coração porque olhando a publicação vejo alguns nomes que já não estão fisicamente entre nós e isso dói porque em Coimbra a amizade torna-se sempiterna, laços indestrutíveis de fraternidade. Peço que me perdoem por não lembrar todos os que partiram e por não me referir à plêiade de presentes em palco (notáveis) e só não os menciono nominalmente porque tenho receio de falhar algum, mas estavam lá os maiores quase todos. Alguns dos que já partiram ao longo desta década: DURVAL MOREIRINHAS, AUGUSTO CAMACHO VIEIRA, AURÉLIO DOS REIS, LUÍS GÓIS, MÁRIO SILVA e CARLOS CARRANCA. Há outros que também já partiram como MÁRIO SOARES e MARIA BARROSO que esteve em palco a dizer poesia de MANUEL ALEGRE. Tive o privilégio de apresentar com a CLÁUDIA SEMEDO este espetáculo, para mim inesquecível porque foi uma lição de vida, de arte e beleza. A pertença a um grupo, a um bairro, a uma cidade, a uma universidade fez-se sentir e ainda hoje recebo episodicamente comentários de pessoas que não esqueceram esta luzidia NOITE DE COIMBRA e realçam o universalismo e salutar vivência da nossa cidade.

Voltando atrás: entrei neste blogue e recordei com afeto esta noite conimbricense que se expressou grandiloquente porque achei muito giro a referência ao facto relatado de nas primeiras filas terem estado várias pessoas do “BAIRRO”. Este espírito, este sentido de grupo e de pertença, a convivialidade, as sociabilidades que florescem no BAIRRO NORTON DE MATOS, merecem-me uma profundíssima admiração. Muitas vezes tenho pensado como seria bom ter morado e pertencido ao BAIRRO NORTON DE MATOS (esteve quase) onde tenho muitos e bons amigos, pessoas do alto a quem corre nas veias esta forma sadia e agregadora de ser, estar e fazer bem. Ainda nos bancos do Liceu, puto de dez anos, tive colegas simpatiquíssimos… que eram do BAIRRO MARECHAL CARMONA: o XAVIER, O JOÃO PIMENTEL, vários. Pela vida fora fiz amigos neste Bairro além de admirar (muito) alguns nomes sonantes da Canção de Coimbra que ali nasceram e viveram: do grande professor da Secção de Fado, ao talentoso construtor de guitarras na sua garagem onde lhe fiz uma entrevista, ao notável guitarrista que se lançou cedo a acompanhar o Zeca – e seu Pai sempre me disse que era um virtuoso na guitarra clássica… e como é grande! O QUE TEM O BAIRRO NORTON DE MATOS PARA SER VIVEIRO DE AMIZADES E PARADIGMA DAS MELHORES SOCIABILIDADES QUE EXISTEM NO MUNDO?

Não sei responder, mas sou, provavelmente, o maior admirador do ESPÍRITO DO BAIRRO… a morar fora daquele belíssimo e afetuoso Bairro Norton de Matos. Um abraço para todos os seus moradores.