A pintura de José Maia não se insere na definição tomista porque não tem predisposição para uma ordem estética imediata de agradar no intuito compreensivo do objeto, da coisa bela, e revela, parte do excelente, como elementos inacabados, que se desarticulam, e se juntam num ângulo repetitivo e onde a imperfeição invulgarmente, é a consciência inteligível, mas a arte surge em pedaços imprevistamente e a beleza é dada na originalidade das emoções do pintor, do artista, na busca da correspondência da obra pública.
Falta-lhe, por vezes, os requisitos fundamentais para dialogar, ser aberto, franco com os pincéis, as telas, por via da tendência filosófica do pintor em usar um traço rebelde, inconformado que se perde em labirintos, em pequenos e não raro becos sem saída.
Talvez por isso mesmo a beleza ou este artista tenha um conceito fora dos clássicos, mas atraente ao tentar a sua construção da mensagem que lhe é peculiar sem se servir da inteligência distorcida, psicadélica, para botar telas legíveis com algum esforço mas sem copiar escolas, correntes, mostrando com coragem a sua harmonia expressa em desenhos sobre papel e em óleo sobre tela numa atitude quase de desinteresse da pureza estética mas exibindo sempre a emoção como estado psicofisiológico que ordena, paradoxalmente, as emoções do artista numa estrutura pós-modernista, que vincula a sua personalidade sem efeitos secundários e supérfluos.
Pintura rebuscada, certamente que sim, mas sem a verticalidade que define a obra de arte como elaboração de arte sumamente bela.
E é esta arbitrariedade de valores neste pintor que empresta valor e a intuição representativa, a honestidade de se apresentar na praça pública com a sua roupa na desordenação dos valores estéticos.
Depois de tanta mediocridade vista por muitos lugares em jeito de conversa informal o pintor explica reminiscências do supra realismo com outros tons, outras cores, onde com frequência se vislumbram as teorias psicanalíticas dos recalcamentos, das visões pictóricas dum Dali, dum Braque, dum grande estado de vigília na preocupação do artista ser diferente no impressionismo que pode ser amor ou ódio numa orgia de liberdade…
Destrói, numa assentada, a mansidão da beleza clássica, da arte bela e sem malefícios dá-nos outra mais frágil onde a libido é quase uma necessidade corporal de o pintor agarrar os pincéis, num pansexualismo, numa ânsia da diferença dos estados emocionais.
Gostei de ver este pintor que trouxe a Coimbra, à galeria da margem esquerda do Mondego, a discussão das impressões liberta de compêndios abstratizantes ou duma literatura que se fecha à cores, às formas, aos ângulos à sabedoria naturalista.
A arte vista várias vezes na margem esquerda é sinónimo de pesquisa que é afinal o dinamismo funcional da pintura.