O Jornal O Despertar resolveu dedicar um espaço editorial de homenagem a um dos seus colaboradores mais antigos e fiéis. E fez bem. O Manuel levou cerca de 70 anos a enriquecer o jornal com a sua prosa bem desenhada, antes e após democracia. Arriscou sempre a verdade, mesmo nos tempos em que era difícil pronunciá-la. A Censura não «calou» quem sempre defendeu Coimbra.
Manuel Bontempo é, sem dúvida, um marco na vida de O Despertar. Começou a colaborar com o jornal em 1952, quando tinha apenas 22 anos, e nunca mais deixou de o fazer.
Hoje, tantos anos decorridos, recorda-se aquela quadra temporal em que jornal tinha um peso jornalístico enorme em Coimbra, lido por milhares de pessoas, de vários estratos sociais. O bi-semanário de Coimbra, assim era na altura, saía às quartas e sextas-feiras e as pessoas compravam-no. E lá estava o artigo de Manuel Bontempo, a defender Coimbra e a pugnar pelo seu desenvolvimento.
O Manuel Bontempo é um exemplo vivo da dedicação e do amor a O Despertar. Diz Zilda Monteiro: «Houve uma época, por volta da década 60/70, em que está praticamente sozinho a colaborar com o jornal. O desaparecimento de alguns colaboradores, nalguns casos de forma muito repentina, deixou o jornal bastante “desamparado” e era preciso que retomasse a sua dinâmica.»
Manuel Bontempo, mesmo à distância, manteve impreterível a sua contribuição habitual, assegurando muitos dos textos que o jornal trazia à estampa. Os artigos chegavam por carta, primeiro de Lisboa e depois de Paris. Escreveu no Diário de Lisboa, mas nunca deixou O Despertar.
Desabafou, um dia, o Manuel: «O jornal foi um amor sacro santo para mim. Era uma fibra sensitiva no meu corpo, no meu espírito… Ainda continua a sê-lo. O Despertar continua a ser uma fórmula de amor que me irá acompanhar para todo o sempre». E foi, até à morte!…
Não tenho muitos dados sobre a seu finamento, a maioria dos seus amigos também as não possuem. Faleceu a 16 de Fevereiro, disseram-me. Informaram-me, também, que não queria que se divulgasse a morte, tal qual era relutante a revelar a idade. Por esse facto, pediu apenas que fosse colocado o ano da sua morte e não o de nascimento na sua sepultura. Em Pereira ficou o corpo do nosso amigo.
Esta opção pela “solidão” na hora da partida, assim decidida, não tem nada de anormal ou quebra a nossa amizade que vai muito para além do túmulo. Esta solidão respeita-se, assim como outras solidões. Estar só, por vezes, faz bem ao corpo e ao espírito.
Que assim seja, bom amigo Manuel, até sempre.
O Despertar deve-te muito, deve-te tudo. Não te esquece. Obrigado