25 de Outubro de 2025 | Coimbra
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Nova loja de Cantanhede nasce em homenagem a um filho

24 de Outubro 2025

Assume-se como uma verdadeira empreendedora. Raquel Florêncio deixou o Brasil há cerca de sete anos e escolheu Portugal para começar uma nova vida. Fez de tudo um pouco: desde trabalhar numa marisqueira a cuidar de idosos. No entanto, o seu objetivo sempre foi claro: criar um negócio que pudesse deixar a Lucas, na altura, o seu único filho.

“Eu queria muito que ele não tivesse de passar pelo processo que eu passei. A vida de imigrante não é fácil. Queria que ele trabalhasse por conta própria e que cuidasse de algo nosso”, recorda Raquel. Considerando que este era “um menino muito responsável”, a mãe não teve dúvidas de que qualquer projeto estaria bem entregue nas mãos dele. Depois de muito refletir, escolheu o açaí como estrela do espaço que viria a fundar.

Em abril deste ano, iniciaram as obras e tudo estava a correr bem. Lucas trabalhava numa fábrica, em Coimbra, mas em breve assumiria este novo desafio. No entanto, um trágico acidente de mota acabou por tirar-lhe a vida, pouco mais de um mês depois, a 26 de maio. “Eu só tinha duas opções: ou me afundava ou me encorajava, juntava todos os meus cacos, e me reerguia como uma fénix e continuava”, afirma Raquel Florêncio.

 

Um “paraíso” familiar

Continuou. Raquel Florêncio decidiu avançar com o negócio que iria deixar para o seu primogénito, contudo, deu-lhe um novo rumo: este tem, agora, como propósito homenagear o jovem. “Há lá um lugar que é só para ele, porque a loja era só para ele”, explica. Um lugar que não passa despercebido a quem por lá passa. O “Paraíso do Açaí” abriu, em Cantanhede, no início de agosto e o conceito de “família” faz-se sentir em cada canto.

“É um ambiente bastante acolhedor. Um sítio agradável para as pessoas visitarem”, sublinha a fundadora. A funcionar há quase três meses, o projeto não poderia estar a correr melhor. “As pessoas têm gostado do nosso produto e do nosso atendimento. Tem sido uma experiência muito boa”, garante.

Como o nome da loja indica, a grande estrela é o açaí. Importado diretamente do Brasil, Raquel Florêncio explica que fez diversos testes até chegar ao produto final que queria vender. “O açaí de qualidade é diferente. As pessoas provam e voltam”, explica, acrescentando que “muitos portugueses já me disseram que não gostavam de açaí e que, agora, já gostam. Está a superar as minhas expectativas, porque estão a gostar realmente do produto. Isso deixa-me muito realizada”.

O sabor tem encantado portugueses e brasileiros de várias idades, desde os mais pequenos aos mais graúdos. “Costumo ter lá [na loja] uma criança que adora. Vai muitas vezes. Os estudantes amam açaí. Ainda há pouco deixei lá uma senhora de 70 anos a comer açaí”, adianta, entre sorrisos.

Além de alegrar o estômago, este fruto também tem inúmeros benefícios para a saúde que vão desde o efeito anti-oxidante e anti-inflamatório à redução do colesterol e proteção da pele. “O açaí não é apenas um gelado. Ele também é ótimo para quem procura qualidade de vida”, salienta Raquel Florêncio.

 

“Todos os dias acordo para dar certo”

Apesar da dor que carrega no coração, a fundadora do “Paraíso do Açaí” tem encontrado força nas coisas mais simples. “Eu amo lidar com pessoas. Amo tratar bem as pessoas. Sou bastante comunicativa”, assume. Por isso, levar este projeto a bom porto não tem sido difícil. “Todos os dias acordo para dar certo”, reitera.

Nesse sentido, e tendo em conta o feedback positivo que o negócio tem recebido, a fundadora não tem dúvidas de que quer abrir mais espaços na região centro, e não só. “Quero gerar empregos e contribuir para o país que me acolheu”, frisa, confessando que tem “os pés bem assentes no chão” e, por isso, primeiro, quer sentir o impacto deste inverno no número de clientes.

Para além de fazer crescer o “Paraíso do Açaí”, Raquel Florêncio tem ainda outro propósito: integrar uma Organização Não-Governamental (ONG) que ajude mães que perderam os filhos. “Vai ser uma honra para mim. Quem está dentro do processo de luto sabe que é devastador. O Lucas era único. Era eu e ele. Era a nossa história. Foi por ele, e continua a ser por ele, que eu me encorajo e levanto todos os dias”, confidencia.

Um exemplo de que a dor pode gerar ainda mais amor. O “Paraíso do Açaí” está aberto, todos os dias, das 10h00 às 23h00. Além do açaí, o menu apresenta outras opções, como gelados, refrigerantes, pastel com caldo de cana, coxinhas e rissóis.

 

Cátia Barbosa
»» [Reportagem da edição impressa no “O Despertar” de 24/10/2025]


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