Foi divulgado recentemente que a Universidade de Coimbra ficara abaixo da posição 500 no Academic Ranking of World Universities – ARWU, mais conhecido por ranking de Xangai. Na verdade, a mais antiga universidade do país e uma das primeiras no contexto europeu, ficou posicionada no intervalo 501-600, mais concretamente na posição 512.
Apesar da pronta resposta político-institucional do reitor, procurando sinais positivos no meio do denso nevoeiro, através de mail enviado a toda a comunidade universitária a 22.08, a verdade é que este é apenas mais um sinal de uma doença sistémica da vetusta universidade.
Na verdade, há muito que os indicadores recolhidos por diversas organizações apontam para uma regionalização da esfera de influência da Universidade de Coimbra, a braços com problemas vários que não ataca para não levantar poeira, antes contorna na expectativa de melhores tempos que tardam em chegar.
O processo de Bolonha, a meu ver, principiou o declínio da Universidade de Coimbra, obrigando a uma formatação de processos e medidas ao modo de quem veste um fato apertado em corpo formoso. Muitos professores, por exemplo, viram métodos e técnicas interrompidas, escolas de ensino que procuraram durante anos implementar ou dar continuidade. Em suma, creio que não se levou em conta, nessa altura de transição, as mais valias de uma instituição secular, o trabalho de gerações, o seu adn histórico.
Umas vozes calaram-se, outras foram silenciadas em nome de um processo global imposto, pouco discutido ou refletido. Desde então, a nossa universidade foi-se perdendo na espuma dos dias, perdendo papel de liderança, incapaz de reformar cursos, de captar alunos – vai valendo por enquanto o filão brasileiro para sustentar alguns – de gerar áreas atrativas de conhecimento, de se tornar competitiva, moderna e referencial.
Foi a partir desta consciência que o referido mail do senhor reitor lançou logo no primeiro parágrafo a grande preocupação:
«Embora este resultado seja contrariado por muitos outros indicadores bem mais positivos que têm vindo a público nos últimos meses, não devemos ignorar os danos que resultam desta notícia desagradável: em ambiente de forte competição nacional e internacional, deve preocupar-nos o efeito reputacional negativo que daqui resulta».
A reputação e a imagem da Universidade de Coimbra preocupam, e de que maneira, o principal decisor universitário, numa época em que mais vale parecer do que ser. O problema é que até para parecer é preciso saber ser e isso está muito longe de se concretizar, como é prova eloquente o aviso 512.