27 de Março de 2025 | Coimbra
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JOÃO PINHO

Nota de Rodapé: Orgulho histórico versus a lógica do perdão

15 de Fevereiro 2019

Tenho escutado com muita atenção o debate histórico levantado em torno do colonialismo e pós-colonialismo português. Com especial atenção, sigo as reflexões segundo as quais não passámos de uma potência esclavagista, para alguns até a pior de todas, que deve pedir perdão, seguindo a matriz judaico-cristã, de tudo quanto fez de mal durante a construção da sua história: escravatura (tráfico negreiro), perseguições aos judeus no tempo da Inquisição (antissemitismo), ou exploração de recursos materiais.

É uma posição ideológica cujas vozes se filiam, aparentemente, numa extrema-esquerda caviar, cheia de boas intenções, por um lado, mas em contradição evidente com a sua praxis, por outro, em que, seguindo a mesma lógica do perdão, quase diviniza figuras como o “ti” Maduro da Venezuela, ou o “primaço” Kim, da Coreia do Norte – rapaziada da ordem e respeito pelos valores democráticos como todos sabemos.

A Universidade onde me formei ensinou, e creio que ainda ensina, que tudo tem um texto e um contexto. Por isso, não tivemos oportunidade, nesses longínquos anos de Quatrocentos e Quinhentos, de adivinhar o futuro, como alguns parecem agora exigir na revisitação histórica.

Fomos colonizadores porque nos aventurámos no mar a descobrir (no conceito europeu) novos povos ou, se quiserem os adeptos do perdão, a encontros civilizacionais com povos pré-europeus (conceito do agrado dos pós-colonialistas). O que parece que alguns se esquecem é que nesse tempo ombreámos com potências como Inglaterra, Espanha, França ou Holanda, e tivemos de responder aos desafios e circunstâncias do tempo – onde a guerra, os massacres, ou os domínios faziam parte do dia a dia.

Por muitas voltas que deem à História, o nosso legado está lá e sobreviverá a atentados à sua honra e dignidade: excelentes navegadores, domínio dos mares e das técnicas de navegação, belas edificações (sobretudo religiosas), trocas comerciais entre povos, pioneirismo na pré-globalização. E, aproveitando essa arguição de justiça pós-colonialista, para quando uma palavra para os inúmeros marinheiros portugueses que perderam a vida nas agora tão criticadas «viagens de descoberta», enlutando muitos lares de Norte a Sul e de Este a Oeste?

Quererem agora reescrever a História a toda força, só para se mostrarem e ficarem bem na fotografia de justiceiros conduzindo belos “kitt” pode acabar mal, ou melhor, pode não ter fim útil que se aproveite: por este caminho os italianos vão ter de nos pedir perdão pela ocupação romana da Lusitânia e perseguições aos Lusitanos; todo o Norte de África pela ocupação da Península Ibérica e perseguições aos cristãos, a França pelas invasões napoleónicas, Espanha a Portugal e vice-versa pelas lutas no tempo das Monarquias.

É mesmo por aqui que queremos ir?


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