Como muitos conimbricenses começo a ficar enfadado com a questão em torno do novo aeroporto. De promessa eleitoral socialista fixada para Cernache/Antanhol, com categórica dimensão internacional, foi agora recambiado para Soure e desqualificado para regional.
As longas e diversificadas narrativas em torno dos estudos e soluções, técnicos e científicos, apontando localizações diferenciadas ao sabor de cada nova encomenda, dão a entender que o caso é cada vez mais virtual do que real, mais político e eleitoralista do que ao serviço das coisas e pessoas, mais de protagonismos e teimosias do que do interesse comum.
Aos poucos, de forma intencional ou não, o tema aeroporto acaba por lançar uma cortina de fumo sobre uma imensidão de problemas e situações que exigem dos cuidadores e decisores das coisas públicas, medidas urgentes a tomar em prol dos interesses da cidade e região.
Colocando o foco no aeroporto desvia-se a atenção de temas vitais, tais como: limpeza e higiene, ausência de políticas urbanas eficazes para o centro histórico, revitalização comercial da Baixa, crescimento populacional, combate ao saldo natural demográfico negativo, enguiço do metrobus, deficiente apoio a investidores, candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura, asfixia sobre as freguesias, a necessária reflexão e prestação de contas sobre os Jogos Universitários Europeus…
A mesma cortina aeroportuária serve para esconder o desconforto de uma imensidão de funcionários camarários, perante decisões questionáveis da hierarquia, bem como para perpetuar uma série de práticas ao nível da sempre delicada área das obras, onde uns quantos constroem quando e como lhes apetece e outros porfiam há anos por uma oportunidade, apesar da carteira recheada e bolsa de clientes – que não raro acabam por serem canalizados e investidos no tecido económico e social dos municípios confinantes.
E é ainda o mesmo perfeito álibi que permite esconder muitas das incapacidades das oposições ao poder vigente em Coimbra, cada vez mais interessadas em deixar o tempo correr até que no horizonte se levante a bandeira do novo ciclo eleitoral autárquico – altura em que procurarão recuperar, em loucas e desnecessárias correrias, os anos perdidos e os danos provocados pelo desinteresse comum e desleixo organizacional.
Continue-se, pois a discutir o aeroporto, entretendo o povo que gosta de melodramas e comédias “à la carte” – não vá ele despertar antes do tempo eleitoral e negar a lista do cardápio político (dominante e aspirante).