11 de Dezembro de 2024 | Coimbra
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JOÃO PINHO

Nota de Rodapé: O Exemplo do Engenheiro

18 de Abril 2019

Não conheço todos os pormenores da vida do Eng.º Valdemar Caldeira, figura que recentemente nos deixou. Mas reconheço algumas variáveis que fizeram dele um ícone de Coimbra Contemporânea: o despojamento dos bens materiais face a uma herança que terá recebido e que distribuiu pelos mais necessitados, o ter sido professor da Universidade, as explicações gratuitas de Matemática, a rejeição da reforma do Estado ou a decisão de viver a sua existência com o mínimo de condições de sobrevivência numa casa simples da Cidreira, o deambular pelas ruas da cidade e região, meditando, sempre de gravata e cabisbaixo.

Valdemar Caldeira

Alguém mais apto do que eu poderá avaliar o perfil psicológico do engenheiro, que no meu entender oscila entre a genialidade e a loucura benigna, com implicações no estilo de vida, nas opções que tomou e que fizeram dele alguém “diferente” pela singularidade cognitivo-comportamental que aos poucos conquistou o coração das gentes de Coimbra.

Fala-se agora numa homenagem póstuma. E é neste ponto que o meu espírito se sobressalta, pois não consigo compreender a razão que leva seres humanos a esperarem pela morte dos seus semelhantes e a quem reconhecem qualidades morais para enaltecerem as qualidades e virtuosidades. É uma perversidade sem qualquer lógica cuja argumentação refuto quase por completo.

Pergunto-me hoje, ontem e sempre: que sentido faz homenagear alguém depois de partir, quando existiu a possibilidade em vida de demonstrar a estima, o reconhecimento, o exemplo? A não ser que os homenageantes queiram brilhar mais do que os homenageados e tudo não passe de um movimento aparente de boas intenções, idêntico a tantos outros em que – segundo reza a ideologia e teologia cristã – está o inferno cheio.


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