Tomou posse, no passado dia 01 de março, o novo reitor da Universidade de Coimbra e a equipa que escolheu para o coadjuvar, simbolicamente, na data em que a vetusta instituição assinalou os seus 729 anos de existência – felicito, por isso, os nomeados e parabenizo a instituição pela sua longevidade.
Há quem diga que o novo reitor segue a linha de continuidade, no pensamento e ação, do antecessor no cargo. Porém, a avaliar por algumas indicações para vice-reitores nota-se, a meu ver, a vontade em reformar e reorientar certos rumos, evidentes e necessários num tempo de incerteza. Na verdade, a UC precisa de novos estímulos e impulsos, sob pena de se perder na espuma dos dias.
Entre os imensos objetivos que a nova equipa reitoral se propõe alcançar parece ter inscrito, finalmente, um desejo perene de aproximação à cidade. O que pode, bem sei, parecer um paradoxo, dado que a Universidade de Coimbra se inscreve, há séculos, no perímetro urbano e no centro da principal colina da urbe, peça chave da construção da história da cidade e região.
Talvez este distanciamento derive, como alguém já referiu, dum facto antigo e algo nebuloso: conta-se que D. João III teria dado o seu aval à definitiva transferência universitária, em 1537, como forma de se libertar da pressão e interferência constante que os setores académicos exerciam no desenvolvimento da atividade da Corte, em Lisboa – desterrando para Coimbra incómodos pensadores, onde lhes deu todas as condições para viverem, pensarem e agirem mas… longe do centro de governação e dos interesses deste, como convinha na lógica política – de ontem e de hoje, diga-se.
Também não podemos esquecer que no consciente e subconsciente de muitos nados e criados em Coimbra, em especial os Salatinas e seus descendentes, a presença da Universidade passou a ser vista como perturbadora, desde que o Estado Novo decidiu arrasar grande parte da histórica alta, na 1.ª metade do séc. XX, para aí construir a cidade universitária – símbolo da opressão sobre os habitantes de Coimbra, que por força da uma imposição legal mas injusta, viram os seus lares sacrificados e a necessidade de se deslocarem para fora do seu torrão natal.
A Universidade, na verdade, quase sempre impôs o seu poder sobre a cidade, interferindo com a normal evolução das instituições. E de tal forma assim foi que durante muito tempo teve o privilégio de indicar um vereador privativo do seu corpo para desempenhar funções na Câmara Municipal (1549-1834) – a que só o constitucionalismo colocou ponto final.
Eu sei, todos sabemos, que os tempos são outros, para bem e para mal. E é precisamente por ser um novo tempo que desejo, sinceramente, que os novos eleitos consigam abraçar a cidade a partir da colina, a compreendam, integrem e apoiem. Não ficando à espera, como quase sempre o fizeram, que o povo suba a encosta para lhes tributar honras e reconhecimentos, à sombra de um estatuto endeusado e de um sol circunscrito à área de gabinete.