É muito ténue a linha que separa o ser saudável do ser doente. Durante a existência humana ambas as condições nos acompanham, por vezes com alternâncias subtis. A passagem ao estado de doente, sempre temido, pode assumir formas suaves ou violentas, progressivas ou súbitas, não escolhendo idades, géneros, raças ou condições sociais.
Nesse momento cai a máscara do mundo moderno e sofisticado, que nos incute de formas diversas, a ideia da infinitude e do super-homem que a tudo resiste. Descemos à terra, constatamos a nossa condição frágil e o contrato a prazo, e procuramos a todo o custo retornar à antiga condição de segurado.
Valem-nos, nos momentos de aperto, os profissionais da saúde, que procuram o tratamento adequado para o caso em análise. Nem sempre acertam à primeira tentativa, pois cada situação é única e irrepetível, e por vezes (muitas, ouvi dizer), o que parece ser não o é.
A doença, ao contrário da saúde, tem um efeito extremamente positivo na mente e no físico de quem padece: evidencia a simplicidade, o essencial e necessário à vida, e até um renovado sentido para a existência.
De facto, quando nos sentimos com saúde, de bem connosco e com os outros, tendemos a esquecer ou a fingir ignorância sobre o nosso estado, de passagem, onde saúde e doença, vida e morte, nos definem e enquadram ao abrigo da lei da vida.
Aproveitemos a saúde enquanto a temos, compreendamos a essência da antecâmara da doença, mas não evitemos o encarar de frente a “senhora dona morte”, na expressão feliz de Eduardo Lourenço à referência intemporal do desconhecido que nos habita.