RESCALDO DO VERÃO: INCÊNDIOS – UMA FESTA BRAVA!
Depois de um julho fresco e húmido desfizeram-se as dúvidas. Veio o verão e com ele os muito desejados incêndios florestais já habituais e que desde 25 de Abril torram as nossas florestas, para contentamento da malta que vive do negócio do fogo e daqueles que se sentam nos cafés a beber minis e a deitar bitaites sobre a vida alheia. Desta vez e como a norte e centro já pouco resta para queimar, optaram pela Serra de Monchique, tão apetitosa e sem arder desde 2003.
O fogo é um espetáculo lindo de se ver: um jogo de cores que durante a noite ganha uma dimensão apocalíptica, madrugadas sem dormir, vendem-se nas farmácias cabazes de ansiolíticos e anti-depressivos, equipas de reportagem das tv’s metem o nariz em tudo arriscando levar umas lambadas ou umas queimadelas valentes.
O povo gosta e participa: uns resistem a sair de casa, outros são forçados a abandonar os seus haveres algemados, levados à força; outros metem-se na sua lambreta, pick up ou bicicleta e plantam-se na linha de fogo; os mais ousados acompanham as frentes fazendo saltar a adrenalina a cada projeção que lhes rasa a testa e dá inicio a nova ignição.
É uma festa brava e rija, que faz corar de inveja as touradas. A coordenação descoordena-se a cada frente que se descontrola, alguns bombeiros esperam o fogo como grupos de forcados, mas sem desafiar o touro; os homens de gabinete bem tentam descer ao terreno mas isso é coisa que não lhes assiste e esquecem-se de tirar a gravata.
Por vezes cheira a comédia: as associações florestais juram a pés juntos que a serra tem de arder para dar de comer a muita gente; o PR irrita-se e deixa de tirar selfies refugiando-se em lago incerto; o PM vem à festa para assoprar as velinhas do fogo e anunciar que vai durar mais uma semana.
Algumas pessoas levam o fogo muito a peito. Choram, gritam, fogem a sete pés das chamas, fingem crises de pânico, lamentam a perda das suas casas e outros haveres. Tudo fazem para que tenham pena deles e se sintam coitadinhos…
O incêndio consome uma floresta ordenadinha, limpa e bem arranjada, com espécies bem adequadas ao clima, respeitando-se a este propósito as várias orientações técnicas e científicas, tão antigas e conhecidas que até metem dó. Contente com o resultado, o Ministro da Agricultura, Capoula Santos, avesso a elogios e homem de bastidores, desaparece assim que lhe preparam o óscar para melhor ator.
Com a área ardida a ultrapassar os 20.000 hectares José Rodrigues dos Santos, pivot da RTP 1 quase grita de contentamento “Olé”. Mas, os farpados são outros: os comandantes operacionais, os presidentes de câmara, os GRIF’s e outras siglas que demoram tanto tempo a descortinar quanto nova frente se define no horizonte.