Confesso!
Cheguei ao Despertar muito mais tarde do que desejaria.
Nascido e criado na Figueira da Foz, as leituras de imprensa desse tempo oscilavam entre O Século e a coleção das Lendas e Narrativas, A Voz da Figueira, O Mar Alto, O Figueirense, O Dever e, na época alta, O Palhinhas!
Estudante em Lisboa, era o Diário de Lisboa, O Comércio do Funchal, ou O Jornal entre outros, que preenchiam o nosso quotidiano de leitura de imprensa.
Mas tudo mudou, e de que maneira, com a proximidade física, emocional e de longa e profunda amizade com Fausto Correia.
Foi ele que “me educou” na leitura atenta do Despertar, na sua história republicana e na longa tradição familiar que o jornal traduzia.
Homem da comunicação social, o Fausto de tudo fazia no seu Despertar. Jornalista, gestor, paginador, angariador de publicidade, etc, o Fausto era na verdade a Alma Mater do Despertar.
E nas longas e quentes noites do verão algarvio era certo e sabido que entre a meia-noite e as cinco da manhã lá estavam duas almas (ele e eu) de volta dos inúmeros sacos de jornais que eram meticulosamente recortados para que os artigos mais significativos pudessem ser guardados em pastas que ainda hoje a família Correia conserva religiosamente.
E entre dois dedos de conversa e os recortes de jornais e revistas, assim decorriam as noites das férias das duas famílias (Correias e Bejas) e que durante mais de vinte anos nos impediram de visitar a Praia da Luz pela manhã.
A morte tão prematura e inesperada do Fausto Correia marcou toda uma geração de amigos.
Eu, nunca mais recortei jornais e nunca mais fui passar férias à Praia da Luz.
Resta-me o consolo de ir lendo O Despertar. É também a forma de homenagear o Fausto de Sousa Correia e o seu seguidor, o Lino Vinhal que, não deixando morrer O Despertar, se mantém fiel ao lema que ostenta desde 1917: Pela Liberdade, Pela Igualdade e Justiça Social, Pela República.