4 de Dezembro de 2024 | Coimbra
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Paulo Ilharco

MADRUGADA

21 de Abril 2023

Antes de eu morrer direi

Que é infame o que se passa

Na cidade onde acabei

Por nascer, já nem bem sei,

Se por gáudio ou por desgraça.

 

Filomena, a que era Santa,

Deu o nome a essa clínica,

Na qual tanta gente, tanta,

Veio ao Mundo com garganta

P’ra cantar que não é cínica.

 

Foi a 26 de Maio,

Do ano de 61,

Que nasceu esse catraio

Que escreveu em verso o Ensaio

Sobre um eu com dom algum.

 

Ao Mondego jurou ser

Trovador-de-água-salgada

P’ra poder, então, morrer,

Se possível, com prazer,

Por ter escrito a Madrugada.

 

 

Ei-lo aqui fazendo jus

À promessa que hoje o vinga:

É parente de Jesus

Por esculpir tamanha cruz…

– Mas há quem o não distinga!

 

Com dez livros publicados

(E o seguinte já na forja),

Tem na boca os rebuçados,

De cicuta disfarçados,

Dados, pois, por uma corja:

 

Essa turba que, imbecil,

Pronuncia mal “saudade”

E parece até senil

Por esquecer ter sido Abril

O Poema à Liberdade.

 

Descendente dos Afagos,

O catraio, já velhote,

Decidiu, sem gestos pagos,

Dar a quem, em sonhos vagos,

Lhe negou um holofote.

 

Tal, apenas, por ter visto

O seu berço num caixão:

O catraio, como Cristo,

Disse: “Pai, eu não desisto

Do meu próprio coração!”.

 

Direi antes de uma lenda

Que o meu Fado ainda timbra.

A paixão não está à venda…

– Haja um Poeta que defenda

Esta Coimbra de outra Coimbra!

 

15/4/2023             Paulo Ilharco

 


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