A Maçã Bravo de Esmolfe, como o próprio nome indica, apareceu na aldeia de Esmolfe, em Penalva do Castelo, há cerca de 200 anos. O surgimento desta variedade de maçã terá como principal causador a existência de condições agroclimáticas favoráveis à manutenção das características que a tornam distinta e apreciada.
Esta maçã caracteriza-se por ser de calibre médio ou pequeno, forma alongada e de epiderme esbranquiçada com a presença de manchas vermelhas. A polpa é branca, macia, sucosa, doce, com boas qualidades gustativas e de aroma intenso.
“A Maçã Bravo de Esmolfe distingue-se das outras a nível organolético e nada tem a ver com as outras maçãs, é muito rica e o seu aroma destaca-se das demais”, explica o Engenheiro Belarmino Alves, presidente do Conselho de Administração da FELBA – Promoção das Frutas e Legumes da Beira Alta, ACE (Agrupamento Complementar de Empresas da Região da Beira Alta).
Em confidência ao Despertar, Belarmino Alves conta que o cheiro da variedade deste fruto é tão intenso que “antigamente quando não existiam os desodorizantes nem os aromas para se colocar nas salas colocavam as maçãs junto ao teto e nos cantos das paredes e ficava uma fragrância agradável naquele local. Já em Lisboa eram denominadas as “Maçãs de Gaveta” porque, como o nome indica colocavam a fruta na gaveta e ficava lá fechada. Quando abriam perfumava a casa toda”.
Além destas qualidades refrescantes a Maçã Bravo de Esmolfe tem componentes que são benéficas para a saúde. Os estudos revelam que pode contribuir para a saúde cardiovascular devido ao seu teor de fibra e polifenóis, que por sua vez auxilia no controlo do colesterol e dos triglicerídeos (gorduras no organismo). O poder antioxidante, que já é conhecido na maçã “normal”, é ainda mais ativo nesta variedade pois o nível de compostos bioativos é maior e, desta forma, é um aliado no combate ao aparecimento de determinadas doenças e envelhecimento precoce. Esta variedade que tem propriedades fitoquímicas ajuda também o organismo a prevenir os diversos tipos de cancro.
Como é feita a produção?
A produção é feita da mesma forma que as outras variedades, a não ser quando é certificada. Aí já tem de ter outros moldes para que seja efetivamente a Maçã Bravo de Esmolfe e não só Maçã Bravo.
Os métodos de produção para que seja alvo de certificação podem ser biológicos, isto é que não envolvem químicos nem qualquer ação de regulação, e de produção integrada que visa regular os recursos em substituição de fatores naturais que podem ser prejudiciais à própria produção.
Na produção integrada pode incluir-se a existência de câmaras de conservação que controlam a temperatura, a humidade, o oxigénio (O2) e o dióxido de carbono (CO2). Portanto, “quando se pretende conservar e aumentar a durabilidade da maçã aumenta-se o valor do CO2 e diminui-se oxigénio – que geralmente na atmosfera ronda os 20% e para que este processo seja possível passa para 2% – evitando que a presença excessiva de O2 leve a um amadurecimento da fruta, que consiste numa combustão lenta maioritariamente provocada pelo oxigénio”, salienta Belarmino Alves. Para que a maçã seja encaminhada para este género de preservação tem de corresponder a algumas especificidades no que toca à dureza, às fissuras e aos defeitos que pode, eventualmente, ter.
A colheita é realizada na última quinzena de setembro e na primeira de outubro e pode ser conservada no frio entre 4 e 5 meses. Se for conservada em temperaturas controladas a sua longevidade pode ser maior, tendo potencial para se tornar uma maçã certificada de Denominação de Origem Protegida (DOP). Caso a maçã fique “amolecida” pode ser excluída.
Este ano, contrariamente, aos anos anteriores a produção de Maçã é menor e ronda entre os 10 e os 15%, na FELBA. Esta quebra relaciona-se com as geadas do início do ano e ao calor excessivo deste verão.
“Enquanto a geada queima, o calor mirra”, confessa o Engenheiro.
Maçã Bravo de Esmolfe faz as delícias dos Penalvenses
O Município de Penalva do Castelo, onde se localiza a aldeia de Esmolfe que deu origem ao nome da Maçã Bravo de Esmolfe, vai realizar no domingo a XXVI Feira da Maçã Bravo de Esmolfe em honra de um dos três produtos (Maçã Bravo de Esmolfe, Vinho do Dão de Penalva do Castelo e o Queijo de Penalva do Castelo) mais característicos da região.
Este certame vai contar com a presença dos membros associativos do concelho no Largo Santo Ildefonso, na freguesia de Esmolfe.
“Vamos ter vários produtores desta variedade de Maçã que a vão fazer render a um preço mais convidativo, isto é mais reduzido ao que se vende nas superfícies comerciais, uma vez que compram diretamente ao produtor”, conta ao Despertar o presidente da Câmara de Penalva do Castelo, Francisco Carvalho.
Além da tradicional maçã haverá doçaria, fumeiro, artesanato e os produtores de vinho e de queijo também marcarão presença – sendo que o Vinho do Dão e o Queijo de Penalva do Castelo são produtos de eleição desta região.
“O certame vai contar com cerca de 50 expositores e cerca de 20 produtores de maçã. Sem esquecer um dos pontos altos do evento, o concurso da delícia da Maçã Bravo de Esmolfe que irá marcar também este domingo, onde haverá inúmeros participantes e um vencedor eleito pelo júri”, salienta Francisco Carvalho.
Para participar no concurso é só concorrer com um doce, um bolo, um licor ou qualquer outro produto que envolva forçosamente a maçã típica da região e a partir dali “dar asas à imaginação”. O vencedor da última edição, há dois anos, foi a pastelaria Dom Bravo. Podem competir não só particulares como também empresas de pastelaria, doçaria ou industriais.
A tarde de domingo será animada pelos grupos Artur e Márcia e Augusto Canário e os amigos. Este ano vai marcar presença na feira a Secretária de Estado da Coesão Territorial, a Doutora Isabel Ferreira, que a vai inaugurar.
“Para terminar, a Maçã Bravo de Esmolfe faz parte de uma trilogia que caracteriza o concelho de Penalva do Castelo, onde fazem parte o Vinho do Dão de Penalva do Castelo e o Queijo de Penalva do Castelo e juntamente com estas delícias nós tentamos vender a imagem do sítio onde nos localizamos, que são paisagens únicas e em conjunto com estes produtos endógenos fazem as “delícias” de quem aqui passa. Se quiser levar uma recordação desta região para casa preze pelos nossos produtos endógenos, porque não há melhor que o sabor da nossa terra na sua boca para nos recordar”, finaliza o presidente de Penalva do Castelo.