A Rua da Moeda sempre foi uma das vias mais movimentadas na Baixa de Coimbra. Com acesso direto para alguns serviços, como a Loja do Cidadão e a Estação de Coimbra, era percorrida com turistas e conimbricenses. Cheia de lojas e restauração, hoje são poucos os espaços que se mantêm de portas abertas.
A loja Eduardo Alves é um dos estabelecimentos que ainda vai resistindo às adversidades dos tempos modernos. José Oliveira é o atual gerente da loja e reconhece que “o negócio não está nada bom”.
Dedicada à venda de pequenos eletrodomésticos, como varinhas mágicas, balanças, secadores, torradeiras, entre outras, a loja está localizada há mais de 20 anos naquela rua, tendo tido, com outros proprietários, lugar na Visconde da Luz.
“Quando fiquei com esta loja [na Rua da Moeda] ainda deu um bocadito, mas depois começou a ir por aí abaixo em todos os aspetos. Hoje não se pode vender uma coisa cara porque não se vende”, realça José Oliveira que admite que os ganhos muitas vezes não chegam a 500 ou 600 euros por mês.
Grandes superfícies e estacionamento dificultam negócio
Embora os portugueses possam estar a atravessar tempos financeiros difíceis, na opinião de José Oliveira o grande problema não é a falta de dinheiro.
“As pessoas antes se queriam comprar umas meias, umas calças ou uns sapatos vinham à Baixa e hoje não. Hoje vão para as grandes superfícies e até nas aldeias já há supermercados onde podem comprar tudo. Não pode faltar dinheiro aqui e lá [centros comerciais] não”, nota o comerciante.
Além disso, afirma que pouco há na Baixa para atrair as pessoas. “Hoje o que temos na Baixa? Comer, beber e turismo. Quer uma sapataria não há, quer uma casa de roupa não há. No meu tempo de jovem havia tudo. Coimbra era a terceira cidade do país a seguir a Lisboa e Porto, agora já nem sei onde está. Na própria Baixa havia armazéns, tinha soldador, tinha casas de comércio, tínhamos tudo. Hoje agarram nas crianças e vão entretelas para os centros comerciais”, salienta, destacando que hoje já é “complicado desabituar” as pessoas e “puxá-las para a Baixa”.
Um outro problema que José Oliveira aponta é a falta de estacionamentos. Um problema já verificado entre comerciantes. “As pessoas não vêm à Baixa para deixar o carro e pagar estacionamento quando têm isso de forma gratuita em outros espaços”.
Tempos que não voltam
José Oliveira viveu toda a sua vida ligado ao comércio e segundo as suas palavras “ver o comércio a desfilhar é muito complicado”. Relembra que antes destas grandes mudanças a Baixa, em tempo de celebrações como o Natal, estava cheia de enfeites e que havia aglomeração de pessoas. “Antigamente, no Natal eram só bonecos, velas e objetos alusivos a essa época. Hoje chegamos aqui à véspera de Natal e é um dia normal, mas olhamos para as grandes superfícies e estão cheias. Eu chegava às 23h30 na véspera de Natal em casa. Tinha-se de pedir licença para passar nas ruas, mas hoje infelizmente não há nada disso”.
O comerciante ressalta que esperava que o negócio tivesse outro rumo, mas que não vê bons ares para isso. “Sempre pensei que melhorasse mas já não acredito. Pelo menos no meu tempo. Não sei o que poderia ser feito para isto evoluir mais porque está num ponto que não há hipóteses para o comércio na Baixa”.
Apesar das dificuldades, José Oliveira não pensa em deixar o negócio. “Hoje para mim não compensa estar com a loja aberta, mas eu só estou aqui para não ir para casa. Lá não tenho nada. São muitos anos a trabalhar”, sublinha, afirmando que é um dos mais antigos e também o mais animado da rua.
Câmara precisa de intervir
O proprietário da Eduardo Alves deixa uma chamada de atenção para as condições que as ruas e, sobretudo, os edifícios na Baixa se encontram. “Há edifícios velhos com telhas a caírem, pedras e vidros sujeitos a caírem em cima de alguém e não há ninguém que venha cá tratar dessas situações. É uma vergonha”.
Numa rua que é tão próxima à Câmara Municipal de Coimbra, José Oliveira não entende como é que “a autarquia não tem o cuidado de, pelo menos, tomar nota” e afirma que na altura das eleições, o atual presidente foi até lá. “Na altura das eleições José Manuel Silva veio cá e prometeu arranjar. Ainda vieram cá fiscalizar mas ficou tudo igual e até agora não arranjaram nada”.