A passagem do furacão Leslie por Portugal poderia ser um episódio normal. Porém, não foi. Tratou-se de um fenómeno meteorológico extremo, incomum nas nossas latitudes, que trouxe devastação e imensos prejuízos por todo o território.
Umas semanas antes, enquanto a tempestade trocava as voltas aos vários centros de previsão meteorológica internacional, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, principais rostos do nosso regime político, acordavam, nos bastidores do poder, a escolha da nova Procuradora Geral da República.
A substituição de Joana Marques Vidal por Lucília Gago poderia, também, ser uma coisa normal. Porém, não foi. E não me refiro ao desempenho excelente de quem sai ou aos méritos de quem entra. Refiro-me ao desabafo incontido, numa reunião de socialistas nos arredores de Lisboa, em que uma amiga pessoal da nomeada para a função, autarca, conhecida socialista e pró-socrática, atendia o telefonema há muito aguardado: «Conseguimos, conseguimos!!!», dizia aos seus correligionários que aos poucos celebravam a vitória que repetidos sms acabaram por vulgarizar. Que preço terá esta “vitória”? O futuro dirá, mas oxalá me engane.
E o furacão chegou, atingindo com severidade Coimbra e sua região, com centenas de árvores derrubadas, estruturas de ferro vergadas e alguns desalojados. Ainda a tempestade fazia sentir os seus efeitos em Trás-os-Montes, quando o governo português aproveitando a cortina de informação sobre o assunto, lançava uma remodelação governamental: Defesa, Cultura, Saúde e Economia tinham com novos ministros.
Leslie ao atingir território Espanhol, entrou em processo de dissipação rápida, encerrando um capítulo notável da nossa história meteorológica. Nesse momento, o «landfall» na Figueira da Foz era já memória do passado, tal como a história de Tancos, que uma remodelação governamental, parida em tempo oportuno, veio tentar sepultar na espuma dos dias ao ritmo da conhecida parábola: a mentira desfilando com as vestes da verdade e a verdade, nua e crua, escondida e envergonhada.